Setores de petróleo e aço podem ser impactados; medida também gera preocupação sobre possíveis sanções ao Brasil
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas sobre importações do Canadá, México e China a partir deste sábado (1º) pode abrir oportunidades para produtos brasileiros no mercado americano. No entanto, especialistas alertam que a medida também pode sinalizar um risco de futuras taxações contra o Brasil.
De acordo com Welber Barral, consultor e ex-secretário de Comércio do Brasil, a iniciativa de Trump pode gerar um fenômeno conhecido como “trade diversion”, ou desvio de comércio, favorecendo países que não foram alvo das novas tarifas.
“Isso é comum no comércio internacional e, teoricamente, o Brasil poderia analisar os produtos exportados pelo México e pelo Canadá para os EUA e tentar ocupar esse espaço no mercado americano”, explica Barral.
No entanto, o especialista ressalta a incerteza em relação às políticas tarifárias dos EUA, o que pode dificultar o planejamento de exportadores brasileiros.
“Esse risco de imprevisibilidade, ainda mais em um mercado do porte dos EUA, que exige volumes significativos de vendas, faz com que os exportadores brasileiros sejam cautelosos antes de apostar em um aumento imediato das exportações para lá”, avalia Barral.
Nesta semana, Trump voltou a citar o Brasil ao criticar países que, segundo ele, “taxam demais”. O presidente americano incluiu o Brasil em uma lista de nações que “querem mal” aos EUA, reafirmando seu posicionamento de utilizar tarifas comerciais como forma de protecionismo econômico.
Para Fernanda Brandão, professora de relações internacionais da Mackenzie Rio, a medida pode favorecer setores brasileiros, mas também representa um alerta.
“Apesar da possibilidade de que alguns setores se beneficiem, é um sinal de que o Brasil precisa agir com cautela e monitorar de perto as relações diplomáticas. Trump tem deixado claro que utilizará tarifas como retaliação em diferentes contextos”, afirma.
Pedro Brites, professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, destaca que os setores de petróleo e aço no Brasil podem ter ganhos a curto prazo, já que México e Canadá são grandes fornecedores desses produtos para os EUA e serão diretamente impactados pelas tarifas.
Por outro lado, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, alerta que o cenário não é necessariamente favorável ao Brasil. Ele destaca que a eventual imposição de tarifas sobre produtos manufaturados brasileiros, que possuem maior valor agregado que as commodities, pode agravar os custos de produção e exportação do país.
Inicialmente, as tarifas entrarão em vigor neste sábado, atingindo o Canadá e o México com uma taxação de 25% e a China com 10%. Trump também declarou na última quinta-feira (30) que avalia excluir as importações de petróleo desses dois países das sanções comerciais.