Por Wilton Emiliano Pinto *
Quando eu era menino, lá nos tempos em que a vida parecia correr mais devagar — no barulho dos galos de madrugada e no cheiro do café coado no pano — ouvia-se muito falar em destino.
As pessoas diziam que tudo já estava traçado: o sucesso e o fracasso, a alegria e a tristeza, o amor e a solidão.
“É o destino”, repetiam com um olhar resignado, como quem entrega os ombros à chuva, certo de que não há guarda-chuva capaz de proteger o que já foi escrito nas estrelas.
Naqueles dias, a gente acreditava.
Afinal, era mais fácil pensar que a vida vinha pronta — como um rio com margens definidas, sem direito a escolha de correnteza.
Mais fácil, sim… mas também mais injusto.
Curiosamente, até hoje se ouve falar em destino e predestinação. Alguns ainda creem que tudo está previamente estabelecido,
como se a liberdade de escolha fosse apenas uma ilusão bonita. Mas será mesmo?
Com o tempo, fui aprendendo que a vida é outra coisa. Que destino não é sentença. Que fatalidade não é castigo.
E que, por trás de cada acontecimento, há algo que nos liga diretamente à grandeza da responsabilidade.
Aprendi isso com o tempo — e com os estudos que fui fazendo ao longo da caminhada.
Descobri que não somos passageiros passivos dessa longa viagem.
Temos, sim, o livre-arbítrio — essa bússola invisível que nos permite escolher rumos, recusar atalhos e, às vezes, voltar atrás
para refazer caminhos mal trilhados.
E isso muda tudo.
Ao invés de pensar que tudo nos é imposto, passamos a entender que somos, em boa parte, autores da nossa história.
O que vivemos hoje é resultado do que plantamos ontem.
E o amanhã que virá dependerá do que estivermos semeando agora.
É verdade que às vezes preferimos culpar o destino pelos nossos tropeços. É mais simples.
Culpamos a sorte, a vida, o acaso… esquecendo que até mesmo a dor pode ser consequência de escolhas mal feitas.
Ou, quem sabe, uma chance generosa de aprender, reparar e crescer.
Se tudo estivesse rigidamente determinado, que sentido haveria no esforço, no arrependimento, no recomeço?
Que valor teria a ética, a bondade, o amor ao próximo?
O ser humano, então, seria uma marionete, e não uma alma em processo de evolução.
Por isso, hoje, ao lembrar dos velhos ditados ouvidos nos alpendres da infância, agradeço pela compreensão mais clara que a vida me trouxe.
Porque sei que, embora a vida traga surpresas — boas ou difíceis — há sempre um espaço de liberdade dentro de nós.
Um espaço de escolha. E de mudança.
É hora, pois, de deixarmos de lado os velhos medos e superstições, e de assumirmos com coragem o papel que nos cabe no palco da existência.
A vida não é uma peça de teatro com final pré-escrito. É um livro em branco, onde cada pensamento, cada atitude, cada renúncia ou gesto de amor desenha uma nova página.
E se é verdade que não podemos mudar o passado, é ainda mais verdadeiro que podemos — e devemos — escrever um futuro melhor.
Com as mãos do coração.
Com as ferramentas da vontade.
E com a luz da consciência desperta.
Porque, no fim das contas, o verdadeiro destino não é o que se recebe.
É o que se constrói.
