Estratégia de defesa gera desconforto no entorno bolsonarista
Nos primeiros dias do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), os advogados dos réus apontados como integrantes do “núcleo crucial” da trama golpista adotaram uma linha de defesa que, em vez de fortalecer, acabou desgastando Jair Bolsonaro. Sem negar a existência de articulações golpistas, as defesas buscaram minimizar a responsabilidade dos acusados, o que resultou em atribuir maior peso político ao papel do ex-presidente.
O caso mais evidente foi o do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa. Seu advogado, Andrew Farias, afirmou em plenário que o militar atuou para “demover” Bolsonaro de adotar medidas de exceção. A declaração, dada após questionamento direto da ministra Cármen Lúcia, repercutiu de forma negativa entre aliados do ex-mandatário.
Reação imediata nas redes sociais
A fala de Farias levou a uma resposta pública de Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação e figura próxima a Bolsonaro. Em postagem nas redes sociais, ele criticou duramente setores das Forças Armadas e disse que generais “vilanizavam a política” mesmo antes do governo.
“Criavam e distribuíam dentro do Gabinete Presidencial teorias conspiratórias para se manter vivos dentro de suas insignificâncias”, escreveu Wajngarten, afirmando ainda que muitos militares do alto escalão se deslumbraram com benefícios do poder.
Aliados veem manobra como “suicida”
Para parlamentares ligados ao ex-presidente, a estratégia da defesa de Nogueira foi considerada um erro grave. O deputado Sanderson (PL-RS) classificou a postura como “suicida” por jogar a responsabilidade exclusivamente sobre Bolsonaro. “Se era ministro da Defesa e presenciou o presidente sugerindo golpe, por que permaneceu no cargo até o fim? Além de não convencer, soou muito mal para um general quatro estrelas”, disse.
Nos bastidores, aliados próximos chamaram a tática de “sorrateira” e “desleal”. Há relatos de que até familiares de Bolsonaro demonstraram desconforto enquanto acompanhavam o julgamento no condomínio onde o ex-presidente cumpre prisão domiciliar.
Defesa de Augusto Heleno também se distancia
Outro episódio simbólico ocorreu na sustentação oral do advogado de Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Matheus Milanez alegou que Heleno teria se afastado de Bolsonaro na segunda metade do mandato, sustentando sua versão com reportagens sobre o esfriamento da relação, atribuído à aproximação do então presidente com o Centrão.
Linha comum entre as defesas
De forma geral, os advogados não negaram a realização de reuniões e conversas de teor golpista já reconhecidas em processos anteriores no STF. A tática foi tentar individualizar as condutas dos acusados, destacando que não participaram diretamente das ações, mas sem contestar que o beneficiário principal seria Bolsonaro.
Posição da defesa do ex-presidente
Enquanto isso, a defesa de Bolsonaro insiste na tese de que ele não participou de nenhuma tentativa de golpe e que estava fora do Brasil durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. O julgamento será retomado na próxima semana, com sessões agendadas para terça, quarta e sexta-feira.



