Instalação da comissão ocorre em meio à tensão política e após operação no Rio de Janeiro com 121 mortos
O Senado instala nesta terça-feira (4) a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, criada para apurar a estrutura, o financiamento e a expansão de facções criminosas e milícias no país. A iniciativa ocorre dias após uma megaoperação policial no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortes e reacendeu o debate sobre o combate à violência e a atuação das forças de segurança.
Com 11 membros titulares e sete suplentes, a CPI promete ser um novo palco da polarização política entre governo e oposição. O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor do requerimento e ex-delegado de polícia, é o nome mais cotado para assumir a relatoria. Nos bastidores, o senador Fabiano Contarato (PT-ES), também delegado aposentado, é apontado como possível presidente. As definições devem ocorrer ainda na sessão inaugural.
Entre os nomes previstos para integrar o colegiado estão Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Sergio Moro (União-PR), Jaques Wagner (PT-BA) e Rogério Carvalho (PT-SE).
Disputa por cargos e controle político
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que acompanhava nesta segunda-feira (3) a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, afirmou que a oposição pretende impedir que o PT assuma o comando da CPI. Segundo ela, há risco de interferência política na condução dos trabalhos.
“A oposição vai se unir. Nós estamos instalando uma nova era com a CPMI (do INSS). O povo já estava desacreditado nesse instrumento poderosíssimo. Nós vamos trabalhar para satisfazer a sociedade também com os frutos dessa CPI”, afirmou Damares.
Questionada sobre a possibilidade de investigar políticos com supostas ligações com o crime, a senadora respondeu de forma enfática: “Se o time que eu estou imaginando, do nosso lado, for para a CPI realmente, vai acontecer o que está acontecendo aqui. Nós vamos querer dar uma resposta”.
Ela também mencionou nomes como Magno Malta (PL-ES), Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Styvenson Valentim (PSDB-RN) como possíveis presidentes. “Nós temos boas pessoas da área de segurança. Temos o Styvenson Valentim, Alessandro Vieira, Sergio Moro. Flávio Bolsonaro também, apesar de não ser policial, mas é advogado e ter sempre militado na área, é presidente da Comissão de Segurança. A direita tem bons nomes para essa CPI”, afirmou.
Críticas à postura do governo
O senador Rogério Marinho (PL-RN) acusou o governo federal de tentar minimizar a gravidade da crise da segurança pública.
“O PT não assinou a CPMI do INSS. A mesma coisa acontece na CPI do crime: eles também não assinaram, mas querem tomar conta do colegiado, querem eleger o presidente, o relator. E a gente fica desconfiado”, declarou.
Marinho acrescentou que há articulações para conter uma possível tentativa do PT de controlar a comissão. “Não posso falar, ou eles vão se preparar”, concluiu.
Estratégias distintas para o combate ao crime
Em contraposição, o senador Jaques Wagner (PT-BA) defende que o enfrentamento ao crime organizado deve ocorrer com uso de inteligência e bloqueio de recursos financeiros das facções, e não por meio de ações bélicas. O mesmo posicionamento é adotado por Contarato, que classificou a operação no Rio como “desastrosa” por ter atingido “inocentes e profissionais da segurança pública”.
“O trabalho precisa ser feito com inteligência e coordenação”, disse o senador.
Diagnóstico nacional
Para Alessandro Vieira, o objetivo central da CPI é produzir um diagnóstico inédito sobre o funcionamento das organizações criminosas no Brasil.
“Nossa expectativa é de que a CPI consiga apontar como elas atuam, suas fontes de financiamento e as rotas de influência. É fundamental entender o que funciona e o que não funciona nas políticas de segurança em vigor”, afirmou o senador.
A criação da comissão ocorre em um momento de forte pressão social por soluções concretas para a violência e para a presença de milícias em territórios urbanos — um tema que também tem mobilizado discussões sobre políticas públicas de segurança e direitos humanos.



