Ação da PF foca em assessor de procurador de Justiça; governador do TO não é investigado
A Polícia Federal deflagrou, nesta terça-feira (18), uma nova fase da Operação Sisamnes, desta vez no Tocantins, com o objetivo de investigar o possível vazamento de informações sigilosas sobre investigações conduzidas sob a supervisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Durante a ação, os agentes federais cumpriram um mandado de prisão contra Thiago Barbosa de Carvalho, assessor do procurador de Justiça Ricardo Vicente da Silva, do Ministério Público Estadual do Tocantins, e sobrinho do governador do estado, Wanderlei Barbosa (Republicanos). O chefe do Executivo estadual, no entanto, não é alvo da operação.
Além da prisão, a PF executou quatro mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Thiago e ao procurador. As medidas foram determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin. Até o momento, a defesa de Thiago não se manifestou, e o Ministério Público do Tocantins informou que ainda não teve acesso à decisão judicial, motivo pelo qual não comentará o caso no momento.
Rede clandestina e crimes investigados
As investigações apontam a existência de uma rede clandestina dedicada ao monitoramento, comércio e repasse de informações confidenciais sobre o andamento de operações policiais, o que teria comprometido a efetividade das investigações.
Entre as medidas cautelares impostas, estão o afastamento de funções públicas, proibição de contato entre os envolvidos, restrição para deixar o país e o recolhimento de passaportes. Os investigados poderão responder por crimes como obstrução de justiça, violação de sigilo funcional e corrupção ativa e passiva.
Origem da investigação e fase anterior da operação
A Operação Sisamnes teve sua primeira fase deflagrada em novembro de 2024, quando foram cumpridos 23 mandados de busca e apreensão e um de prisão. Entre os alvos estavam advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados suspeitos de envolvimento na venda de decisões judiciais.
Na ocasião, foram determinadas medidas contra desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), além de assessores dos ministros do STJ Isabel Gallotti e Og Fernandes—Daimler Alberto de Campos e Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade, respectivamente—, além de Márcio José Toledo Pinto, que atuou em diversos gabinetes da Corte.
O único alvo de prisão preventiva foi Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como lobista responsável por intermediar interesses ilícitos entre advogados e servidores públicos. Segundo a Polícia Federal, os investigados solicitavam pagamentos para garantir decisões favoráveis em processos judiciais e também negociavam o vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes sobre operações policiais.
Assassinato de advogado e relação com o STJ
As suspeitas de irregularidades no STJ surgiram após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023, em Mato Grosso. O crime levou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a afastar dois desembargadores do TJ-MT.
Durante a investigação do homicídio, mensagens encontradas no celular do advogado indicaram um suposto esquema de venda de decisões dentro da Corte, envolvendo pelo menos quatro gabinetes de ministros do STJ.
A Polícia Federal segue aprofundando as investigações para identificar outros possíveis envolvidos no esquema.