Investigação no STF sobre suposta participação do presidente do PL na trama golpista preocupa bolsonaristas e pode dificultar diálogo entre ex-presidente e partido
Retomada do inquérito gera preocupação entre aliados
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) manifestam receio de que a reabertura da investigação contra Valdemar Costa Neto atrapalhe as articulações do partido para as eleições de 2026. Em conversas reservadas, veem a decisão com estranheza e a interpretam como tentativa de enquadrar o principal articulador do PL.
A decisão de retomar o inquérito foi tomada pela Primeira Turma do STF, por sugestão do ministro Alexandre de Moraes. Na prática, a medida dificulta a interlocução com Bolsonaro, que já está proibido de receber visitas, exceto aquelas autorizadas por Moraes.
Proibição de contato complica articulações
Nesta quarta-feira, Bolsonaro negou que Valdemar tenha tentado visitá-lo, justificando que a proibição de contato com outros réus e investigados do caso da trama golpista impede qualquer reunião. A restrição já havia sido aplicada no passado, quando Valdemar também era investigado, situação que durou cerca de um ano.
Embora tenha sido indiciado, o presidente do PL não foi incluído na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Na época, bolsonaristas apontaram que a situação gerava ruídos internos e prejudicava articulações eleitorais, como foi observado nas eleições municipais em Curitiba.
Tensão entre ex-presidente e presidente do PL
Bolsonaro já havia criticado Valdemar publicamente e chegou a ameaçar deixar o partido, conforme aliados atribuem à falta de comunicação entre os dois. Com a prisão domiciliar do ex-presidente e a impossibilidade de contato, o diálogo deve ficar ainda mais limitado, impactando decisões estratégicas, especialmente sobre nomes para o Senado em 2026.
Enquanto isso, Valdemar tem intensificado viagens pelo país e assumido parte das funções de articulação eleitoral que antes eram de Bolsonaro. Interlocutores apontam que o ex-presidente, preocupado com eventual transferência para um presídio após esgotamento de recursos no STF, tem participação reduzida nas decisões do partido.
Reações políticas nas redes
Parlamentares do PL saíram em defesa de Valdemar nas redes sociais. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que a investigação é “desculpa para atingir o partido” e criticou o STF. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), reforçou apoio a Valdemar, destacando que ele “atuou dentro da legalidade e com respeito às instituições brasileiras”.
O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) comentou que questionar as urnas em busca de aprimoramento do processo eleitoral “se tornou crime”.
Motivo da reabertura do inquérito
A reabertura foi definida pela maioria da Primeira Turma do STF, derrotando a posição do ministro Luiz Fux. Moraes sugeriu a retomada ao votar pela condenação de Carlos Cesar Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, contratado pelo PL em 2022 para produzir relatório sobre as urnas eletrônicas.
Rocha foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por organização criminosa e tentativa de abolição do Estado democrático de Direito. O relatório elaborado por ele gerou suspeitas falsas de fraude nas eleições de 2022, com base nas quais o PL pediu a anulação de votos em quase metade das urnas, ação que foi rejeitada e multada em R$ 23 milhões por litigância de má-fé.
Além do caso de Valdemar, o STF publicou nesta quarta-feira (22) o acórdão que condenou Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado. Com a publicação formal do julgamento, passam a contar os prazos para recursos, e um eventual cumprimento de pena em regime fechado só ocorreria após esgotamento dos recursos, previsto ainda para 2025.


