Ministro do STF critica articulação internacional contra ele e diz que Suprema Corte ignorará punições impostas pelo governo Trump; julgamento da cúpula golpista deve começar em setembro
Moraes repudia sanções dos EUA e acusa articulação de bolsonaristas
Na abertura do segundo semestre do Judiciário, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez sua primeira manifestação pública após ser alvo de sanções financeiras anunciadas pelo governo dos Estados Unidos. Durante o discurso, classificou como “covardes e traiçoeiras” as ações que levaram à medida e afirmou que se tratam de atos de “traição à pátria”.
Sem citar nomes, Moraes direcionou as críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), apontado como responsável por articular com autoridades americanas a inclusão do ministro na chamada Lei Magnitsky — mecanismo jurídico que prevê sanções contra indivíduos acusados de corrupção ou violação de direitos humanos.
“Encontram-se foragidos e escondidos fora do território nacional. Não tiveram coragem de continuar no território nacional”, disse Moraes, em referência indireta ao grupo político ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Julgamento da trama golpista deve começar ainda neste ano
Responsável por relatar as investigações sobre os atos golpistas de 2022, Moraes informou que as ações penais relativas aos quatro núcleos da denúncia da Procuradoria-Geral da República serão julgadas até o fim do ano. A expectativa é de que o julgamento do núcleo central, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro, seja pautado para setembro. As demais ações devem ser analisadas ao longo de 2025.
Durante o pronunciamento, o ministro acusou aliados de Bolsonaro de adotarem práticas semelhantes às de milícias ao promoverem ataques a ministros do STF e a seus familiares. Citou nominalmente os casos envolvendo as esposas dos ministros Gilmar Mendes e Cristiano Zanin.
“Essas condutas caracterizam atos executórios de traição ao Brasil e representam confissões explícitas da prática de crimes”, declarou Moraes.
Suposta organização criminosa e tentativa de desestabilização institucional
Segundo o ministro, as articulações internacionais, incluindo o incentivo à imposição de tarifas contra o Brasil, fazem parte de uma estratégia para provocar crises econômica, social e política — com o objetivo final de gerar instabilidade institucional. Ele acusou diretamente os responsáveis pelas ações de atuarem como uma “organização criminosa miliciana” que tenta coagir os Poderes da República.
“Acham que estão lidando com pessoas da laia deles, mas não estão. Estão lidando com ministros da Suprema Corte. Engana-se essa organização ao achar que conseguirá impor coação covarde aos Poderes constituídos do Brasil”, afirmou.
Moraes também relatou que um dos investigados recentemente ameaçou os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, numa tentativa de pressionar por pedidos de impeachment contra ministros do STF.
Supremo vai ignorar sanções americanas, diz Moraes
Sobre as punições impostas pelo governo do presidente Donald Trump, Moraes declarou que tanto ele quanto a Suprema Corte as ignorarão.
“O STF irá ignorar as sanções aplicadas. Este relator continuará atuando como sempre fez: de forma colegiada, transparente e com base na legalidade”, afirmou o ministro, fazendo referência à atuação do tribunal no combate às investidas golpistas.
Barroso defende a corte e condena interferências externas
O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, também se pronunciou durante a cerimônia de reabertura dos trabalhos do tribunal. Em um discurso de apoio a Moraes, ele destacou que a atuação do Judiciário foi fundamental para a preservação da democracia brasileira.
“A marca do Judiciário brasileiro, do primeiro grau ao Supremo Tribunal Federal, é a independência e a imparcialidade. Todos os réus serão julgados com base nas provas, sem qualquer tipo de interferência, venha de onde vier”, disse Barroso, ao lembrar que o processo sobre a tentativa de golpe conta com ampla documentação, incluindo confissões e registros em vídeo.
Gilmar Mendes: “STF não se dobra a intimidações”
Outro integrante da Corte, o ministro Gilmar Mendes, relacionou as sanções à pressão de empresas de tecnologia insatisfeitas com decisões recentes do STF, que atribuíram responsabilidade às plataformas digitais por conteúdos ilegais ou nocivos.
“As big techs fazem lobbies poderosos e tentam dobrar o tribunal e o governo brasileiro a seus caprichos e interesses econômicos. Este STF não se dobra a intimidações”, declarou.
