Autoridades do Distrito Federal manifestam preocupação sobre eventual prisão do ex-presidente em Brasília, citando risco de instabilidade e repercussões políticas
Governo do DF busca alternativa
A proximidade do julgamento, na sexta-feira (7), dos embargos de declaração apresentados por Jair Bolsonaro e outros integrantes do chamado núcleo central da tentativa de ruptura institucional reacendeu tensões em Brasília. Embora o Supremo Tribunal Federal ainda vá decidir como e onde o ex-presidente cumprirá a pena de 27 anos e três meses, caso seja mantida, integrantes do governo do Distrito Federal já se movimentam nos bastidores para tentar evitar sua possível transferência ao Complexo Penitenciário da Papuda.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, representantes do Palácio do Buriti têm procurado ministros da Corte de forma reservada para expor preocupações com a logística e a segurança de colocar o ex-presidente em uma unidade prisional comum. Atualmente, Bolsonaro cumpre prisão domiciliar preventiva por determinação do STF em outro processo.
Preocupação com segurança e estabilidade
Aliados do governador Ibaneis Rocha, que busca proximidade com o ex-presidente e projeta disputar uma vaga no Senado em 2026, afirmam que a presença de Bolsonaro na Papuda poderia gerar instabilidade. “Um preso com esse perfil dentro do sistema é muito complicado”, disse uma fonte próxima ao governo distrital. O interlocutor aponta risco de rebeliões, desafios de segurança e impactos políticos. A relação entre Ibaneis e o STF vem de um histórico recente de atritos, desde o afastamento do governador após os eventos de 8 de Janeiro.
Por isso, a cúpula do GDF tem buscado ministros com trânsito político e proximidade com o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, para reforçar o argumento de que o presídio distrital não seria a opção mais adequada.
Episódio na Papuda pesa na discussão
A morte de Cleriston Pereira da Cunha, preso pelos atos de 8 de Janeiro, após um mal súbito durante banho de sol na Papuda, em novembro de 2023, é frequentemente citada nos diálogos reservados. Autoridades temem que um incidente semelhante envolvendo Bolsonaro aumente tensões políticas e provoque desgaste internacional, especialmente a pouco mais de um ano das eleições municipais.
Precedente para prisão domiciliar
A Papuda já abrigou nomes da alta política nacional, como José Dirceu e José Genoino, no caso do mensalão. Dirceu, em entrevista à BBC Brasil, argumentou que Bolsonaro não teria condições de cumprir pena em regime comum e citou o precedente do ex-presidente Fernando Collor, autorizado por Alexandre de Moraes a cumprir prisão domiciliar por motivos de saúde.
Collor foi condenado a oito anos e dez meses no âmbito da Lava Jato e alegou doenças graves, incluindo Parkinson, para obter o benefício. A defesa de Bolsonaro deve seguir caminho semelhante, explorando relatórios médicos para reforçar o pedido.
Nos bastidores do bolsonarismo, a hipótese de detenção em presídio também gera apreensão. Um ex-ministro avaliou que Moraes gostaria de “expor” Bolsonaro publicamente, enquanto o senador Flávio Bolsonaro afirmou ao blog que seu pai estaria sendo submetido a uma punição excessiva. “O mínimo é permitir que ele permaneça em casa cuidando da saúde”, declarou.
Posição oficial do governo do DF
Procurado, o governo do Distrito Federal negou que esteja articulando com ministros do STF e disse que a informação “não procede”. Já a Secretaria de Administração Penitenciária destacou que cumpre integralmente as determinações judiciais e realiza alocação dos presos com base em critérios técnicos, incluindo idade e vulnerabilidades específicas.
			
                                
	
	

