A “pressão alta” afeta mais de 60 milhões de brasileiros sem sintomas óbvios.
Estresse, sedentarismo e consumo excessivo de sal são os principais fatores de risco, mas a mudança de hábitos e o monitoramento regular podem salvar vidas.
A hipertensão arterial, popularmente conhecida como “pressão alta”, é uma das doenças crônicas mais comuns e traiçoeiras no Brasil, atingindo cerca de 35% da população adulta, o que equivale a mais de 60 milhões de pessoas. O grande perigo reside no caráter assintomático da doença, que pode evoluir silenciosamente por anos e culminar em complicações graves como infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e insuficiência renal e cardíaca.
“a maioria dos casos de hipertensão não apresenta sintomas óbvios. o perigo está justamente no fato de a pessoa se sentir bem, enquanto a pressão elevada vai danificando órgãos vitais, como o coração, o cérebro e os rins”, explica Lilian Cavalheiro, cardiologista do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”.
O impacto da rotina moderna e da dieta
A médica aponta que a rotina moderna tem um impacto direto no aumento da prevalência da hipertensão. “o estresse constante, a falta de sono e o excesso de compromissos aumentam a liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que elevam a pressão arterial”, explica a especialista.
A alimentação é outro fator de risco crucial. “o excesso de sal e ultraprocessados tem influência direta na pressão arterial e contribui para o aumento do peso e da gordura abdominal, fatores que elevam o risco de hipertensão. é o resultado de uma combinação de hábitos e predisposição genética”, acrescenta a Dra. Lilian.
Prevenção e monitoramento: o caminho para o controle
Mudanças simples no estilo de vida são reforçadas pela cardiologista como essenciais para a prevenção e o controle da doença. “caminhar ajuda a reduzir a pressão, pois aumenta a vasodilatação. já uma dieta com baixo teor de sódio e rica em potássio, proveniente de frutas e vegetais, diminui o volume de líquido nos vasos sanguíneos e fornece nutrientes importantes e antioxidantes”, orienta.
A medição regular da pressão é um gesto fundamental. A Diretriz de Hipertensão Arterial de 2025 recomenda que a pressão seja aferida em todas as consultas médicas e, no mínimo, uma vez ao ano em pessoas saudáveis, sendo os aparelhos automáticos domiciliares uma alternativa segura.
O paciente Nilton de Farias, de 56 anos, descobriu a doença em um episódio inesperado. “estava assistindo televisão quando, de repente, tudo escureceu. chamei minha esposa dizendo que não estava bem e fui levado ao hospital. lá, disseram que minha pressão estava muito alta”, relembrou. O diagnóstico o levou a restringir sal e gordura na dieta e adaptar seus exercícios físicos. Nilton realiza acompanhamento na UBS Jardim Coimbra, que oferece a Linha de Cuidado em Hipertensão.
A Dra. Lilian Cavalheiro alerta ainda para a queda da faixa etária dos diagnósticos. “estamos vendo cada vez mais diagnósticos em pessoas na faixa dos 30 ou 40 anos, principalmente devido ao sedentarismo e à alimentação inadequada. é um mito achar que a hipertensão é uma condição exclusiva da terceira idade”, conclui.
A linha de cuidado como foco na prevenção
O sistema de Linha de Cuidado em Hipertensão, exemplificado pela UBS Jardim Coimbra, busca organizar o acompanhamento de pacientes na rede pública, focando em um cuidado integral, contínuo e personalizado. Virginia de Lima, gerente da UBS e líder do programa, explica que o objetivo é identificar casos precocemente, acompanhar o tratamento e “prevenir complicações, reduzindo internações e atendimentos de urgência. é uma forma de promover saúde e qualidade de vida, e não apenas tratar a doença”.
O programa atua desde a prevenção até o acompanhamento de longo prazo, envolvendo equipes da Estratégia Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde na busca ativa e em orientações sobre hábitos saudáveis. Segundo Virginia, o acompanhamento é coordenado a partir da Atenção Primária, que serve como porta de entrada. “o cuidado começa no domicílio, com o trabalho das equipes da estratégia saúde da família (esf), e se estende aos atendimentos na ubs, com suporte de médicos, enfermeiros, nutricionistas e educadores físicos. essa integração garante que o paciente receba atenção adequada em todas as etapas, prevenindo complicações e fortalecendo a adesão ao tratamento”.
A gerente destaca que o maior desafio é a adesão e a mudança de hábitos. “é preciso constância. o paciente precisa ser protagonista do seu cuidado. nosso papel é apoiar e incentivar essa transformação”, finaliza Virginia.



