Wanderley Barbosa fica seis meses fora do cargo enquanto Polícia Federal amplia investigações sobre desvios durante a pandemia
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou, nesta quarta-feira (3), o afastamento temporário do governador do Tocantins, Wanderley Barbosa (Republicanos), por um período de seis meses. A medida ocorre em meio a investigações sobre suposto envolvimento do chefe do Executivo estadual em fraudes na aquisição de cestas básicas durante a pandemia de covid-19. Barbosa está à frente do governo do estado desde outubro de 2021.
O antecessor de Barbosa, o ex-governador Mauro Carlesse, também foi afastado pelo STJ em outubro de 2021, acusado de participação em esquema de propinas, e renunciou ao cargo em março de 2022.
Operação Fames-19 entra em nova fase
O afastamento coincide com a deflagração da segunda fase da Operação Fames-19, conduzida pela Polícia Federal (PF), que busca aprofundar investigações sobre supostos desvios de recursos públicos destinados ao combate da pandemia. A primeira fase da operação ocorreu em 21 de agosto de 2024, com mandados de busca e apreensão em endereços vinculados a Barbosa e outros investigados.
Nesta quarta, mais de 200 agentes federais cumprem 51 mandados em Palmas, Araguaína, no Tocantins, além de locais no Distrito Federal, em Imperatriz (MA) e João Pessoa (PB). Segundo a PF, o objetivo é reunir elementos sobre possíveis irregularidades no uso de emendas parlamentares e recebimento de vantagens indevidas por autoridades públicas.
Defesa de Barbosa mantém versão de inocência
Ao ser alvo da primeira fase da operação, Barbosa afirmou que, na época dos fatos investigados, ocupava o cargo de vice-governador e não tinha responsabilidade sobre os gastos com o programa de cestas básicas. Em nota divulgada nesta quarta, o político reiterou a posição e classificou a decisão do STJ como “precipitada”.
“É importante esclarecer que os pagamentos relativos às cestas básicas ocorreram entre 2020 e 2021, durante a gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesas”, afirmou. Ele acrescentou que determinou à Procuradoria-Geral e à Controladoria-Geral do Estado a instauração de auditoria sobre os contratos e o envio completo das informações às autoridades competentes.
Barbosa também informou que recorrerá judicialmente para reassumir o cargo, defender a legalidade de seus atos e garantir a continuidade da administração estadual.
Supostos desvios e prejuízo aos cofres públicos
Segundo a Polícia Federal, a investigação aponta fortes indícios de que contratos de fornecimento de cestas básicas e frangos congelados teriam sido fraudados entre 2020 e 2021, aproveitando o estado de emergência em saúde pública e assistência social. O total pago nesses contratos ultrapassou R$ 97 milhões, com prejuízo estimado superior a R$ 73 milhões aos cofres do Tocantins.
Os valores supostamente desviados teriam sido ocultados por meio de empreendimentos de luxo, aquisição de gado e cobertura de despesas pessoais dos envolvidos. As investigações seguem em sigilo e tramitam no STJ.



