Ministros do Supremo Tribunal Federal ponderam as consequências de uma eventual prisão do ex-presidente
A análise sobre a possibilidade de prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República, por descumprimento de medidas cautelares tem gerado intensas discussões entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora as ameaças de prisão, feitas pelo ministro Alexandre de Moraes, tenham gerado repercussão significativa, os integrantes da Corte têm defendido um posicionamento de cautela, considerando as repercussões políticas e diplomáticas envolvidas.
Decisão de Moraes provoca reações no STF
A polêmica começou após o despacho de Moraes, que indicou a possibilidade de prisão de Bolsonaro caso ele não explicasse suas declarações públicas contra a obrigatoriedade de uso de tornozeleira eletrônica. A situação acirrou ainda mais os ânimos no Supremo, especialmente após a divulgação de editoriais de jornais criticando a medida e a postura do ex-presidente. Para alguns ministros da Corte, é necessário ponderar sobre os impactos de um confronto mais direto, que poderia exacerbar ainda mais a crise política no Brasil.
Impacto nas negociações internacionais
Além da instabilidade política interna, políticos e empresários alertaram sobre as consequências internacionais que uma prisão preventiva poderia causar, especialmente em relação às negociações com os Estados Unidos. O aumento da tarifa de importação de produtos brasileiros, de 50%, é um dos pontos críticos a ser discutido com a administração de Donald Trump, e uma crise mais intensa com Bolsonaro poderia complicar essas conversas.
O ex-presidente Michel Temer (MDB), em um apelo pela pacificação, destacou a necessidade de um diálogo construtivo entre o Brasil e seus parceiros internacionais, criticando as sanções de Trump como “despropositadas” e as medidas contra ministros do STF como “inadmissíveis”. Para Temer, ações mais rígidas, como a prisão de Bolsonaro, não resolveriam as questões em jogo, mas apenas agudizariam o conflito.
A posição cautelosa do STF
Cinco ministros do STF, ouvidos pela Folha de S. Paulo, reforçaram que a prudência deve prevalecer em um momento tão delicado. Embora a maioria dos ministros tenha sustentado o respaldo a Moraes em suas decisões anteriores, a questão das entrevistas de Bolsonaro e a ameaça de prisão por sua declaração no Congresso Nacional, em 21 de julho, pode ter exacerbado a crise. Para os ministros, é importante que o processo jurídico seja concluído sem precipitações, principalmente porque a fase final do julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado, em que Bolsonaro está envolvido, já está próxima.
O ministro Luiz Fux, ao votar contra a imposição de medidas mais duras contra o ex-presidente, afirmou que a soberania nacional deve ser respeitada, e que as decisões da Corte devem ser pautadas pela Constituição, sem pressões externas.
Um clima de distensão e o temor de prisão
O clima político, que antes estava em alta tensão, apresentou sinais de distensão ao longo desta quarta-feira (23). Bolsonaro, que inicialmente acordou com helicópteros e jornalistas em sua residência, foi informado por seus aliados de que a possibilidade de uma prisão preventiva estava sendo revista. Apesar de não haver resposta oficial de Moraes até o final do dia, aliados de Bolsonaro estavam mais tranquilos, avaliando que a situação não levaria a uma prisão iminente.
Embora o ex-presidente tenha ficado na sede nacional de seu partido, onde se manteve em companhia de aliados, ele não falou com a imprensa, limitando-se a informar que “infelizmente, não podia falar”. Aliados afirmam que, apesar de considerar-se preso de fato, Bolsonaro se comprometerá a cumprir as medidas cautelares estabelecidas, aguardando um esclarecimento mais detalhado sobre a questão das entrevistas.
Saúde e cuidados pessoais
Em meio à crise política, a preocupação com a saúde de Bolsonaro também foi mencionada. Após ser afastado de compromissos públicos por recomendação médica, o ex-presidente passou a ser monitorado por aliados, que temiam que o estresse exacerbasse o seu quadro clínico. No entanto, relatos indicam que ele já não apresentava os sintomas de sofrimento, como soluços, e estava em condições melhores.