Políticos se dividem sobre a postura do ex-presidente no debate sobre tarifas impostas por Trump, enquanto governo brasileiro lida com as repercussões econômicas.
A estratégia de Jair Bolsonaro (PL) diante da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 50% sobre produtos importados do Brasil gerou divisões entre seus aliados. De um lado, há aqueles que defendem uma participação ativa do ex-presidente no debate público sobre o tema, sugerindo que ele tome uma atitude prática para tentar resolver a crise. No entanto, ninguém no entorno de Bolsonaro tem clareza sobre como ele poderia efetivamente contribuir. Em contrapartida, existe uma ala que argumenta que Bolsonaro deve se manter afastado da situação, uma vez que não dispõe dos mecanismos necessários para intervir diretamente e, principalmente, para evitar se responsabilizar por um problema de natureza internacional.
A decisão de Trump, que tem relação com a atuação de Eduardo Bolsonaro desde sua mudança para os EUA, não foi surpreendente para aqueles que advogam pela participação do ex-presidente. O primeiro grupo já vinha solicitando uma manifestação pública de Bolsonaro, o que aconteceu na noite de quinta-feira (10).
Em uma postagem nas redes sociais, Bolsonaro evitou criticar a sobretaxa, mas aproveitou o momento para exortar os Poderes a tomarem ações urgentes, fazendo referência ao que ele chamou de perseguição judicial. “O Brasil caminha rapidamente para o isolamento e a vergonha internacional. A escalada de abusos, censura e perseguição política precisam parar. O alerta foi dado, e não há mais espaço para omissões”, escreveu ele em sua conta no X, plataforma anteriormente conhecida como Twitter.
Embora tenha mencionado a medida tarifária, Bolsonaro se concentrou em seu próprio discurso político, destacando a necessidade de rapidez nas ações das autoridades brasileiras. Isso ocorre porque Trump, além da sobretaxa, cobra o encerramento de um julgamento no STF que pode resultar em uma nova condenação para o ex-presidente, com uma pena de até 40 anos de prisão por envolvimento em uma suposta trama golpista. Bolsonaro também expressou respeito pelo governo dos EUA e, ao ser citado na carta de Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seguiu a narrativa de seus aliados, sugerindo que a decisão de Trump estava relacionada à postura diplomática adotada pelo Brasil.
No entanto, aliados de Bolsonaro que defendem essa abordagem argumentam que ele se vê sem ferramentas para agir de forma eficaz. Para eles, qualquer negociação com os Estados Unidos deve ser responsabilidade do governo brasileiro, e o ex-presidente se limita a observar a situação. Informações indicam que empresários têm procurado tanto Bolsonaro quanto seu filho, Eduardo, deputado licenciado do PL de São Paulo, que tem mantido contato com autoridades do governo de Trump sobre possíveis sanções aos ministros do STF.
Bolsonaro, que tem demonstrado preocupação com a crise, não acredita que o governo Lula conseguirá encontrar uma solução para a situação. Ele cita, como exemplo, a falta de sintonia na diplomacia do governo atual com os EUA, que teria contribuído para o agravamento do problema.
Por outro lado, o bolsonarismo, especialmente nas redes sociais, tem se desmarcado da responsabilidade pelo aumento das tarifas, com a expressão “a culpa é do Lula” sendo amplamente compartilhada por parlamentares e influenciadores de direita. Em meio a esse cenário, o ex-presidente, que se recupera de uma esofagite e sem compromissos oficiais, almoçou nesta quinta-feira com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em Brasília. Durante o encontro, também estavam presentes José Vicente Santini e Wagner Rosário, ex-assessor e ex-ministro de Bolsonaro, que hoje ocupam cargos no governo paulista.
Em entrevista anterior, o governador Tarcísio de Freitas reconheceu os impactos negativos das tarifas sobre a economia de São Paulo e cobrou que o governo Lula inicie uma negociação com os Estados Unidos. Além disso, reafirmou a inocência de Bolsonaro e sugeriu que, caso o ex-presidente seja condenado, um indulto seria uma medida que poderia pacificar o país.
A crise provocada pela sobretaxa dominou as conversas nos bastidores políticos em Brasília. Empresários passaram o dia fazendo ligações para parlamentares, que esperam uma solução diplomática até o final deste mês, com a continuidade das negociações em andamento.