Solicitação foi motivada por indícios de que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tentou deixar o Brasil com apoio do ex-ministro Gilson Machado; ação pode configurar obstrução da Justiça
Procuradoria vê risco de evasão de réu da trama golpista
A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão preventiva do tenente-coronel Mauro Cid, em meio a uma investigação que apura uma suposta tentativa do militar de fugir do país. Réu em ação penal que trata de uma tentativa de golpe de Estado e delator em acordo firmado com a Polícia Federal (PF), Cid estaria buscando meios para se evadir do território nacional, segundo os investigadores.
A iniciativa do procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi baseada em informações da PF que apontam a saída de quatro familiares do militar em direção aos Estados Unidos. O fato reforçou a suspeita de que Cid contava com apoio logístico para fugir, entre eles o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto, preso nesta sexta-feira (13).
Investigação aponta articulação para obtenção de passaporte estrangeiro
De acordo com o relatório da PF, Machado teria atuado em maio deste ano para viabilizar a obtenção de um passaporte português para Mauro Cid, o que abriria caminho para sua saída do Brasil. A tentativa foi interpretada pelas autoridades como uma possível manobra para dificultar o andamento da ação penal, considerada um caso emblemático da ofensiva contra a democracia.
As investigações indicam que Gilson Machado procurou o Consulado de Portugal em Recife, cidade onde reside, mas não obteve êxito. A PF, no entanto, suspeita que o ex-ministro poderia buscar outros consulados ou embaixadas com o mesmo objetivo.
“Elementos sugestivos” de obstrução e favorecimento pessoal
Na manifestação enviada ao STF, Paulo Gonet argumenta que há indícios suficientes de que o ex-ministro atuou com o intuito de interferir na Ação Penal nº 2.668, que trata da tentativa de golpe, e que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados. “As informações da PF apresentam elementos sugestivos de que o Sr. Gilson Machado Guimarães Neto […] esteja atuando para obstruir a instrução da ação penal e das demais investigações em curso”, escreveu Gonet.
Segundo o procurador-geral, o objetivo da articulação seria garantir a evasão de Mauro Cid do país e, assim, impedir a aplicação da lei penal, sobretudo diante da proximidade do encerramento da fase de instrução do processo.
Polícia Federal apreende celular de Mauro Cid e o leva para novo depoimento em Brasília
A Polícia Federal apreendeu, na manhã desta sexta-feira (13), o telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em sua residência localizada na área militar de Brasília. A ação, que integra a investigação sobre a tentativa de obstrução à Justiça envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), se estendeu até as 10h50.
No mesmo horário, Cid deixou sua casa acompanhado por seus advogados e seguiu para a sede da Polícia Federal, onde prestou novo depoimento.
Depoimento aborda passaporte e mensagens em perfil suspeito
Segundo apuração, o interrogatório de Mauro Cid gira em torno de dois pontos centrais que surgiram nesta semana. O primeiro é a tentativa do ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto de obter, de forma irregular, um passaporte português em nome de Cid. A iniciativa teria ocorrido junto ao consulado de Portugal em Recife, onde Machado reside. Ele foi preso nesta sexta-feira, suspeito de envolvimento em uma possível articulação para facilitar a fuga do militar do país.
O segundo tema refere-se a mensagens ofensivas publicadas por um perfil na plataforma X (antigo Twitter), identificado como “@gabrielar702”, e atribuídas a Cid. Os conteúdos criticam diretamente delegados da Polícia Federal e o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionados à tentativa de golpe. As mensagens foram reveladas pela revista Veja na quinta-feira (12).
Ex-ministro nega envolvimento
Procurado na última terça-feira, Gilson Machado negou qualquer tentativa de interferência em favor do ex-ajudante de ordens. Segundo ele, a visita ao consulado teve outro propósito. “Estou surpreso. Nunca fui atrás de nada a respeito de Mauro Cid. Tratei do passaporte para o meu pai”, afirmou o ex-ministro.