Guerra na Ucrânia
A declaração foi feita neste sábado (15) durante uma entrevista coletiva após uma reunião virtual com líderes de 25 nações, conduzida pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, instou os países ocidentais a apresentarem uma “posição clara” em relação às garantias de segurança que estariam dispostos a fornecer caso seja alcançado um cessar-fogo com a Rússia.
O encontro teve como foco a evolução do conflito iniciado há três anos por Vladimir Putin. Durante sua fala, Zelenski evidenciou um padrão recorrente nos debates diplomáticos: discursos grandiosos sobre as responsabilidades europeias, enquanto a decisão final recai sobre os Estados Unidos. O líder ucraniano participou da reunião por videoconferência.
“A paz será mais confiável com contingentes europeus no solo e o lado americano como um seguro”, afirmou o presidente, reforçando o tom das discussões recentes.
Nos últimos encontros diplomáticos, Zelenski enfrentou pressões do presidente americano, Donald Trump, que tem se alinhado à visão de Putin sobre as causas do conflito. Trump também sugeriu que Kiev precisaria aceitar perdas territoriais como parte de um acordo de paz. O líder ucraniano admitiu não ter conhecimento detalhado das negociações entre Washington e Moscou.
Sem meios militares para sustentar sozinho a resistência contra a Rússia, Zelenski acabou aceitando um cessar-fogo de 30 dias em um encontro entre delegações americanas e ucranianas em Jeddah, na Arábia Saudita. A decisão colocou os Estados Unidos como intermediários diretos do processo, mas deixou em aberto os próximos passos.
Putin respondeu à proposta na última quinta-feira (13), afirmando que só aceitaria a trégua se ela não fosse temporária e se houvesse definições claras sobre os termos de uma negociação definitiva. Entre suas exigências estão a desmilitarização da Ucrânia, a neutralidade de Kiev e a consolidação do controle russo sobre 20% do território ucraniano, incluindo a Crimeia, anexada em 2014.
Embora as demandas russas façam parte de uma estratégia de negociação, o Kremlin já deixou claro que não aceita a presença de forças de paz europeias na Ucrânia, argumentando que isso poderia resultar na presença de tropas da Otan no país. A perspectiva vai contra um dos principais argumentos usados por Putin para justificar a invasão: a tentativa de impedir que Kiev ingressasse na aliança militar liderada pelos Estados Unidos.
Trump, por sua vez, tem mostrado apoio à ideia de uma força de paz europeia, em linha com sua política de delegar à Europa uma maior responsabilidade sobre sua segurança. No entanto, o republicano não se comprometeu de maneira enfática com a proposta. Diante desse cenário, Zelenski reforçou a necessidade de que os aliados europeus tomem uma posição mais definida sobre o assunto.
Keir Starmer afirmou que uma “coalizão dos dispostos” está sendo formada para garantir a estabilidade na Ucrânia em caso de cessar-fogo, atuando “em terra, mar e ar”. Tanto ele quanto o presidente francês, Emmanuel Macron, já manifestaram apoio à ideia de uma força de paz, mas detalhes sobre a implementação ainda não foram esclarecidos. Uma nova reunião foi convocada para a próxima semana.
Enquanto as discussões diplomáticas avançam, a guerra continua. Putin sugeriu que Zelenski pretende utilizar a trégua de 30 dias para reestruturar suas forças, enquanto o líder ucraniano acusa o Kremlin de prolongar as negociações para continuar a ofensiva. Em Moscou, o ceticismo em relação à iniciativa de Trump também se mantém elevado.
Ainda neste sábado, Zelenski minimizou as informações sobre a pressão militar enfrentada por suas tropas. Em publicação na rede social X, ele afirmou que os soldados ucranianos “cumpriram sua missão” e que as operações continuam. No entanto, imagens de satélite e relatos indicam que houve retirada de forças ucranianas de Kursk, no sul da Rússia. Trump chegou a afirmar que o cerco estava completo e pediu a Putin que poupasse os militares ucranianos. O russo respondeu sugerindo que demonstraria “magnanimidade” se os combatentes se rendessem.
A perda de Kursk representa um revés para Zelenski. Alguns analistas apontam que a operação lançada em agosto passado serviu para obrigar a Rússia a dividir seus esforços militares, o que teria um impacto positivo para Kiev. Outros, no entanto, argumentam que a retirada enfraquece a posição ucraniana nas negociações e representa uma perda significativa de recursos humanos e equipamentos militares.
Na madrugada deste sábado, os ataques com drones continuaram em alta intensidade. Foram registrados ao menos 130 lançamentos por parte das forças russas e 126 por parte da Ucrânia, com danos reportados em várias regiões. O cenário reflete a continuidade do conflito e a incerteza sobre um desfecho pacífico no curto prazo. (Fonte: Folhapress)