Democrata socialista supera Cuomo e Sliwa e se torna o primeiro prefeito muçulmano da cidade, prometendo medidas para baratear o viver urbano
Ascensão inédita em Nova York
Zohran Mamdani, 34 anos, foi eleito prefeito de Nova York na última terça-feira (4), tornando-se o primeiro muçulmano a ocupar o cargo e o mandatário mais jovem da cidade em mais de cem anos. Com propostas centradas no alívio do custo de vida, como congelamento de aluguéis, transporte público gratuito e expansão de creches gratuitas, o político consolidou uma vitória expressiva para o campo progressista do Partido Democrata.
O democrata socialista superou o ex-governador Andrew Cuomo e o republicano Curtis Sliwa, somando mais da metade dos votos. A disputa ocorreu em meio a críticas do presidente Donald Trump, que rotulou o então candidato de “comunista lunático”.
Até o ano passado, Mamdani era um deputado estadual pouco conhecido, eleito em 2020 pelo Queens. Sua campanha, marcada por comunicação direta e forte apelo visual, atraiu jovens e trabalhadores afetados pela crise urbana, impulsionando sua ascensão em uma das cidades mais caras do mundo. Com cerca de 90% das urnas apuradas, ele mantinha vantagem aproximada de nove pontos percentuais sobre Cuomo.
“Sou jovem, muçulmano, socialista democrático e me recuso a pedir desculpas por qualquer uma dessas coisas”, disse Mamdani em discurso após o resultado. “Nova York, vocês deram um mandato pela mudança.”
Embate interno democrata
A vitória de Mamdani começou a se desenhar nas primárias democratas, quando derrotou Cuomo, apoiado por setores moderados do partido. O ex-governador buscava retornar à política após renunciar em meio a denúncias de assédio, que segue negando.
O novo prefeito contou com apoio de lideranças da esquerda democrata, como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez. Cuomo, por sua vez, obteve ampla votação em distritos judaicos ortodoxos e entre eleitores judeus liberais.
Mamdani conquistou grupos pouco visados pelos democratas tradicionais: jovens de bairros gentrificados, motoristas de táxi, comerciantes de pequenas lojas e imigrantes sul-asiáticos da classe trabalhadora.
Choque com o governo Trump
A vitória de Mamdani abre um novo capítulo no embate entre Nova York e a Casa Branca. Durante a campanha, Trump ameaçou cortar verbas federais da cidade e até assumir o controle da prefeitura caso o democrata vencesse. Também insinuou que poderia prender e deportar Mamdani, nascido em Uganda e cidadão americano desde 2018.
“Nova York continuará sendo uma cidade de imigrantes, construída e liderada por imigrantes”, afirmou Mamdani em recado ao presidente no discurso da vitória.
Críticos questionam a viabilidade financeira de suas propostas e apontam sua pouca experiência política. O prefeito eleito, porém, promete executar “a agenda mais ambiciosa de combate ao custo de vida desde os anos 1940”.
Eleições reforçam democratas
A disputa nova-iorquina integra um ciclo eleitoral positivo para os democratas. Além da prefeitura, o partido conquistou os governos da Virgínia e de Nova Jersey, sinalizando mudança de humor no país após o retorno de Trump à presidência há nove meses.
Na Califórnia, eleitores aprovaram uma proposta que pode garantir até cinco novas cadeiras democratas na Câmara ao permitir a rediscussão do mapa distrital estadual.
Quem é Mamdani e o que propõe
Filho da cineasta Mira Nair e do acadêmico Mahmood Mamdani, ambos de destaque no meio intelectual internacional, o novo prefeito foi criado em Nova York desde os sete anos. Formado em estudos africanos pela Bowdoin College, ele trabalhou com prevenção de despejos e defesa de proprietários de baixa renda, experiência que o aproximou da pauta habitacional.
Moradia foi o eixo central de sua campanha. Com Nova York figurando em relatórios como uma das cidades com aluguéis mais altos do planeta, o congelamento de preços e a ampliação de moradias populares foram bandeiras principais.
Mamdani também propõe imposto fixo de 2% para quem ganha mais de US$ 1 milhão, aumento da tributação corporativa, tarifa zero nos ônibus, salário mínimo de US$ 30 por hora e expansão das creches públicas. A governadora democrata Kathy Hochul, no entanto, já demonstrou resistência a iniciativas que elevem impostos sobre os mais ricos.
Resta agora ao novo prefeito transformar promessas ousadas em políticas viáveis num cenário político turbulento e sob constante pressão federal.



