Escassez de semicondutores atinge cadeia produtiva europeia e reacende alerta sobre dependência da indústria automotiva em relação à China
A principal fábrica da Volkswagen, localizada em Wolfsburg, na Alemanha, pode ter sua linha de produção interrompida devido à falta de chips semicondutores importados de uma empresa envolvida em uma disputa geopolítica entre China, Holanda e Estados Unidos.
A montadora já iniciou tratativas com autoridades alemãs para discutir a possibilidade de reduzir as jornadas de trabalho na unidade. A imprensa local especula se a produção poderá ser mantida a partir de novembro, diante do cenário de incerteza no fornecimento.
“Atualmente, a produção não está comprometida. Diante da situação dinâmica, porém, não é possível descartar impactos de curto prazo sobre a produção”, afirma a Volkswagen em comunicado interno que vazou na quarta-feira (22).
Disputa geopolítica afeta fornecimento de chips
A crise foi desencadeada após o governo holandês assumir, em setembro, o controle da Nexperia — empresa ligada ao grupo chinês Wingtech. A medida, tomada sob pressão dos Estados Unidos, seguiu a classificação do conglomerado como “ameaça à segurança pública” em 2024.
A Nexperia é uma das maiores fornecedoras mundiais de semicondutores básicos, como diodos e transistores, além de produzir chips modernos usados em veículos elétricos. Apesar de estar sob gestão holandesa, parte de sua produção ainda ocorre em território chinês.
No início de outubro, o governo de Pequim retaliou a decisão holandesa suspendendo as exportações de chips para a indústria automobilística. A reação afetou diretamente as montadoras europeias.
Montadoras alertam para impacto na produção
Fabricantes como Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz já manifestaram preocupação com a paralisação das exportações chinesas. O alerta também veio de montadoras japonesas, como Honda e Nissan, segundo reportagem do The Guardian.
“Isso mostra mais uma vez quão vulneráveis nós somos na Europa, também no que diz respeito às cadeias produtivas. O governo federal faz bem em manter estreito contato com o setor em busca de soluções”, declarou Sebastian Roloff, porta-voz do Partido Social-Democrata alemão para assuntos econômicos e de energia, à emissora ARD.
Roloff defendeu ainda que a Alemanha mantenha o diálogo com a China para tentar encontrar soluções de curto prazo.
Volkswagen busca alternativas de fornecimento
Nesta quinta-feira (23), a Volkswagen anunciou estar em busca de “fornecedores alternativos, de modo a minimizar possíveis efeitos sobre a cadeia produtiva”. A Mercedes-Benz também afirmou adotar medidas para evitar uma repetição da crise de semicondutores que afetou a indústria durante a pandemia de covid-19.
Um porta-voz da Volkswagen negou reportagem do tabloide Bild que apontava risco de paralisação também na fábrica de Zwickau. No entanto, uma fonte interna confirmou que há conversas “preventivas” com autoridades alemãs sobre a possibilidade de redução da jornada de trabalho em Wolfsburg.
Em Zwickau, a produção já foi reduzida por baixa demanda, com uma pausa de uma semana no início de outubro e a demissão de mais de 10 mil trabalhadores.
