Você já pensou que ninguém é só si mesmo?
Somos sempre nós… e nossas circunstâncias.
Essa é uma verdade simples, mas que muda tudo.
Porque o lugar onde nascemos deixa marcas.
As pessoas que nos criam deixam caminhos.
E o mundo ao redor parece sempre empurrar a gente para algum lado.
Mas, no fim, somos nós que decidimos para onde ir.
Eu nasci no meio rural.
Um cenário de terra, mato, silêncio e horizontes largos.
Meus pais mal sabiam ler.
Mas sabiam algo ainda mais valioso:
sabiam acreditar.
Não tinham estudo.
Mas tinham força.
E foi essa força que abriu a primeira porta para mim.
As circunstâncias podiam ter me limitado.
Mas não sabiam que eu chegava ao mundo com uma vontade enorme de ir além.
Contaram-me que eu precisava estudar.
Então fui.
Comecei nas escolas simples.
Depois, em 1960, alcancei o famoso Colégio Pedro Gomes, em Goiânia.
Um passo que parecia gigante para quem vinha da roça.
Mas nada veio de bandeja.
Trabalhava durante o dia.
Estudava à noite.
Os olhos cansados.
O corpo pedindo descanso.
O caderno me esperando na mesa.
E eu seguia.
Porque parar não era uma opção.
Na faculdade, o ritmo continuou o mesmo.
Trabalho de dia.
Aulas de noite.
Livros vencidos na marra.
Sono empurrado para depois.
Eu sabia que aquele esforço mudaria o rumo da minha vida, e mudou.
Receber um diploma universitário não foi apenas uma conquista.
Foi uma declaração:
as circunstâncias podem influenciar, mas não definem ninguém.
Hoje, quando escrevo estas crônicas, lembro daquele jovem atravessando a cidade escura depois da aula.
E penso: valeu a pena cada passo.
Mas esta crônica não é sobre mim.
É sobre todos nós.
E se você tivesse nascido no Japão?
Na Alemanha?
Outra cultura, outro idioma, outra vida.
As circunstâncias moldam.
Mas não aprisionam.
Somos feitos do nosso temperamento, tímidos, expansivos, calmos, explosivos.
Somos feitos da classe social onde começamos.
Da escola que recebemos.
Do ambiente que não escolhemos.
Tudo isso pesa.
Mas nada disso determina quem você será.
Há quem passe anos dizendo:
“Se eu tivesse nascido em outro lugar…”
“Se eu tivesse tido mais oportunidades…”
Mas a vida não muda com “se”.
Ela muda com atitude.
Reclamar das circunstâncias não transforma nada.
Agir, sim.
Eu poderia ter ficado preso ao destino esperado para um menino da roça.
Mas escolhi caminhar.
Escolhi abrir portas.
Escolhi criar minhas próprias circunstâncias.
E, no fundo, é disso que esta reflexão trata:
a vida dá o começo, mas o final é você quem escreve.
Seja qual for o seu ponto de partida, lembre-se:
você não está condenado a ele.
O passado é verdade, mas não é sentença.
O mundo tenta moldar você.
Mas é a sua coragem que realmente define quem você é.
A vida é sua.
A escolha também.
E a responsabilidade, especialmente.
Você é você e as suas circunstâncias.
Mas pode ser muito mais do que elas imaginavam.
O começo não foi sua escolha.
Mas o final pode ser tão bonito quanto sua coragem permitir.




