Lançamento foi marcado por elogios a Bolsonaro, críticas ao papel do Estado e articulações para 2026
A formalização da federação entre União Brasil e Progressistas (PP), nesta terça-feira (30), foi marcada por gestos políticos claros em direção à direita e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, em um momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta dificuldades para consolidar sua base e aprovar sua agenda no Congresso Nacional.
Maior força partidária do país, a nova federação conta com 109 deputados federais, 14 senadores, 6 governadores e 1.330 prefeitos. Durante o evento no Congresso, o grupo divulgou um manifesto defendendo um “choque de prosperidade” e criticando o modelo de Estado intervencionista, frequentemente associado às gestões petistas.
“Nós queremos menos Estado e mais liberdade para que o setor produtivo conduza o crescimento do Brasil”, diz o documento, que faz referências elogiosas apenas ao Plano Real, liderado por Fernando Henrique Cardoso, e omite avanços de outros governos.
Elogios a Bolsonaro e críticas veladas ao Planalto
O tom do encontro evidenciou a proximidade com o bolsonarismo. O vice-presidente do União Brasil, ACM Neto, foi direto ao comentar a importância do ex-presidente para o campo da direita:
“Bolsonaro é um personagem político com tamanho e densidade eleitoral inegável. Ninguém pode querer construir um projeto sério de enfrentamento ao PT sem considerar isso”, afirmou.
Outro destaque foi o discurso do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que se posiciona como possível pré-candidato ao Planalto:
“Essa federação nos transfere uma responsabilidade enorme. Temos que saber vencer as eleições de 2026. Estamos construindo um novo rumo para o país.”
Disputa por protagonismo e descontentamento interno
A presidência da federação será compartilhada, inicialmente, por Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União), o que gerou descontentamento entre aliados, especialmente do deputado Arthur Lira (PP), que desejava liderar o grupo. Ambos, Nogueira e Rueda, mantêm articulação direta com Bolsonaro para a formação de uma frente competitiva em 2026.
Um dos nomes mais cotados para encabeçar essa articulação é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em evento realizado no mesmo dia, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que, caso Tarcísio seja candidato, a centro-direita deverá unificar apoio:
“Se ele for candidato, a centro-direita não lança mais ninguém. Caiado não sai, Ratinho [Júnior] não sai, Zema não sai, Tereza Cristina também não.”
Participação de líderes e ausência do PT
Estiveram presentes na cerimônia o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Motta, apesar de seu partido ter recusado integrar a federação, destacou a afinidade política com o novo bloco. Já Alcolumbre adotou um tom mais moderado:
“O caminho do equilíbrio e do entendimento é o que faz um país do tamanho do Brasil seguir em frente”, disse.
Representando o governo federal, compareceram apenas os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes), ambos indicados por partidos da federação. Nenhum representante do PT esteve presente. Por outro lado, o evento contou com a presença de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido de Bolsonaro na Câmara.
Manifesto propõe reformas e reduz papel do Estado
O manifesto político da federação critica os governos pós-redemocratização, com destaque para os do PT, e propõe uma “reforma modernizadora do Estado”. Entre os pontos defendidos estão uma reforma administrativa ampla e a redução da máquina pública. A proposta mira o corte de gastos, a revisão das regras do funcionalismo e a limitação do papel do Estado como agente econômico.
Divisões internas e disputa por comandos regionais
Apesar do tom de celebração, a federação enfrenta impasses internos significativos. Nove estados ainda não definiram quem comandará as executivas estaduais. Entre eles, estão São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais — os maiores colégios eleitorais do país. A divisão das presidências estaduais será objeto de negociações diretas entre os dirigentes nacionais das duas siglas.
Até o momento, há acordo para a divisão de 18 dos 27 estados: o União Brasil comandará nove e o PP os outros nove. Critérios como a presença de governadores e o número de deputados federais foram levados em consideração.
Entre os arranjos já definidos, lideranças como Alcolumbre (Amapá), Ronaldo Caiado (Goiás), ACM Neto (Bahia), Arthur Lira (Alagoas) e Ciro Nogueira (Piauí) conseguiram assegurar o controle de seus redutos.
Crises locais e ameaças de debandada
Mesmo em estados já definidos, há resistências. O deputado Mendonça Filho (União-PE) rejeita a entrega do comando de Pernambuco ao PP. Na Bahia, deputados do PP, aliados ao governo estadual do PT, resistem a uma liderança do União, que é oposição local.
No Amazonas, apesar do controle formal do União, o deputado Pauderney Avelino mantém atrito com o governador Wilson Lima (União), o que pode comprometer a harmonia da federação. Parlamentares insatisfeitos cogitam deixar a federação na próxima janela partidária, prevista para 2026.
Divergências eleitorais e embates por candidaturas
A definição de candidaturas estaduais também tem gerado atritos. Em pelo menos 14 estados, há divergências abertas. Um dos principais conflitos está no Paraná, onde o senador Sergio Moro (União) aparece como favorito nas pesquisas para o governo estadual, mas enfrenta resistência do PP, que integra a base do atual governador Ratinho Júnior (PSD).
Distanciamento de Lula e ambições para 2026
O lançamento da federação consolidou o distanciamento político em relação ao governo Lula, apesar de União e PP controlarem quatro ministérios. O grupo sinaliza de forma cada vez mais explícita que não pretende compor a aliança lulista para 2026, mirando protagonismo eleitoral próprio no campo da centro-direita.
( Com O GLOBO )