Saída de Celso Sabino do Turismo marca primeiro passo de um movimento que pode afetar órgãos estratégicos e com orçamentos bilionários
Primeiras baixas no ministério
A decisão do União Brasil de deixar a base do governo começou a se materializar com a saída do ministro do Turismo, Celso Sabino. O pedido de exoneração foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última sexta-feira (26), após pressão direta do presidente da sigla, Antonio Rueda. Lula, no entanto, solicitou que o aliado permanecesse até o fim da semana, em uma tentativa de reduzir a tensão e ganhar tempo para negociar.
Outro caso em observação é o do deputado licenciado André Fufuca (PP-MA), atual ministro do Esporte. Diferentemente de Sabino, ele ainda não recebeu orientação oficial de sua legenda para deixar o cargo e mantém a agenda ministerial.
Partidos ocupam postos estratégicos
O levantamento aponta que União Brasil e PP controlam 140 cargos de confiança distribuídos em órgãos estratégicos. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), com orçamento de R$ 1,3 bilhão, é um dos exemplos. A diretoria-geral está sob influência do PP desde o governo Jair Bolsonaro, enquanto a área administrativa é ocupada por Narcélio Moreira Albuquerque, ligado à deputada Fernanda Pessoa (União-CE).
Na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Heitor Freire, ex-deputado do União pelo Ceará, ocupa a diretoria de gestão de fundos. O órgão também tem entre seus quadros José Lindoso de Albuquerque Filho, aliado do ex-presidente do partido Luciano Bivar. Já a Codevasf, que administra R$ 2,1 bilhões em 2025, segue sob comando de Lucas Felipe de Oliveira, apadrinhado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP).
Disputa por espaços federais
Com a debandada, partidos como PT, PDT e PSD já se mobilizam para disputar espaço na Esplanada. O PT indicou interesse em ver Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, assumir o Ministério do Turismo. O PDT, por sua vez, pressiona pela nomeação do deputado André Figueiredo (CE). Pedetistas chegaram a levar o pleito diretamente a Lula em reunião recente.
Enquanto isso, o União Brasil ainda mantém influência em superintendências regionais, como a Sudam, responsável pela gestão do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia, que terá orçamento de R$ 830,5 milhões em 2025. Integrantes do partido também ocupam postos em órgãos como a Funai, o Palácio do Planalto e estruturas estaduais do Ministério da Saúde.
Pressão interna e risco de sanções
A direção do União Brasil publicou nota exigindo que todos os filiados peçam exoneração imediata de cargos de livre nomeação no governo federal. A resolução prevê a abertura de processos disciplinares para quem descumprir a determinação, com possibilidade de expulsão da legenda.
Já o PP, embora tenha seguido caminho semelhante, só deve começar a implementar as mudanças no fim do mês. Até o momento, a cúpula do partido não se manifestou publicamente sobre a situação.
Emendas ganham peso na negociação
Para analistas, a movimentação partidária ocorre em um contexto em que as emendas parlamentares se consolidaram como principal moeda de troca no Congresso. Em 2024, o Orçamento destinou cerca de R$ 53 bilhões às emendas, valor recorde.
Segundo Yagoo Moura, cientista social da FGV, o peso das emendas reduz a atratividade de ministérios esvaziados em termos de recursos:
— O que conta hoje para as lideranças é a fatia das emendas, que dá retorno mais rápido e efetivo nas bases eleitorais. Ministérios com pouca verba não funcionam como vitrine.