Hospitalizações por influenza entre pessoas com 60 anos ou mais cresceram 189% em relação ao ano anterior; taxa de letalidade foi de 21,7%.
Dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) revelam um cenário alarmante: em 2024, a cada cinco idosos hospitalizados por gripe no Brasil, um morreu. A taxa de letalidade entre pessoas com 60 anos ou mais atingiu 21,7%, refletindo o impacto severo do vírus influenza nesse grupo etário.
As internações por síndrome respiratória aguda grave (Srag) causada pela gripe cresceram 189% entre os idosos em comparação com 2023. Já as admissões em unidades de terapia intensiva (UTIs) saltaram 187%, e o número de mortes aumentou 157% no mesmo período.
Entre os casos de maior repercussão, está o do cantor e apresentador Ronnie Von, 80, que ficou internado por dez dias em uma UTI após contrair o vírus H1N1. A infecção evoluiu para pneumonia viral e provocou uma complicação cardíaca. “Eu achava que era uma medida preventiva, por ter amigos médicos. Mas não, a coisa era séria”, afirmou o artista, que participou de um evento da farmacêutica Sanofi nesta quarta-feira (26) para alertar sobre os riscos da doença.
Ronnie Von ressaltou a gravidade da internação e os custos envolvidos no tratamento: “R$ 80 mil por dia numa UTI é a morte anunciada. Sabe quanto custa a vacina? É de graça.”
O artista não estava vacinado nas duas vezes em que contraiu o vírus — em ambas, foi salvo por tratamento antiviral.
Campanha de vacinação começa em abril
A vacinação contra a gripe continua sendo a principal medida de prevenção contra complicações causadas pela doença. A campanha nacional terá início oficial em 7 de abril, mas o Ministério da Saúde recomenda que estados e municípios comecem a aplicação assim que receberem as doses.
A vacina da gripe passa a ser ofertada de forma contínua para crianças de seis meses a menores de seis anos, gestantes e idosos. A partir deste ano, o imunizante estará disponível nos postos de vacinação ao longo de todo o ano.
Público-alvo da campanha
Além de idosos, crianças pequenas e gestantes, a campanha também contempla os seguintes grupos:
- trabalhadores da saúde;
- puérperas;
- professores;
- indígenas;
- pessoas em situação de rua;
- profissionais das forças de segurança, de salvamento e das Forças Armadas;
- pessoas com doenças crônicas ou condições clínicas especiais;
- pessoas com deficiência permanente;
- caminhoneiros, trabalhadores do transporte coletivo e portuários;
- funcionários e internos do sistema prisional;
- adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas.
Vacina protege e não transmite gripe
A vacina contra a gripe é produzida com vírus inativado e não transmite a doença. Possíveis efeitos adversos incluem dor no local da aplicação, febre baixa e mal-estar leve, que costumam desaparecer em até 48 horas. Casos de reações mais graves são raros e se restringem a pessoas com histórico de anafilaxia a doses anteriores ou com alergia grave a ovo.
Por que os idosos devem se vacinar?
Segundo a geriatra Maisa Kairalla, presidente da Comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, o envelhecimento compromete a resposta imunológica — fenômeno conhecido como imunossenescência. “As infecções nos idosos podem desencadear quadros como infarto, AVC, perda muscular e piora cognitiva. A vacina reduz esses riscos e preserva a qualidade de vida”, afirma.
Crianças, especialmente as menores de dois anos, também estão entre os mais vulneráveis. Todas as crianças com menos de nove anos que nunca foram vacinadas devem receber duas doses no primeiro ano de imunização.
Diferenças entre as vacinas
A rede pública oferece a vacina trivalente, eficaz contra os vírus influenza A H1N1, H3N2 e influenza B. Já clínicas privadas disponibilizam a vacina quadrivalente, que inclui mais uma cepa do vírus B.
Há ainda uma versão de alta dosagem, recomendada para idosos. Conhecida como Efluelda, desenvolvida pela Sanofi, essa vacina contém quatro vezes mais antígenos do que a dose padrão e oferece uma eficácia 24% superior para pessoas com mais de 60 anos.
“A vacina da rede pública é excelente e suficiente para a maioria. Mas, para os mais vulneráveis, a de alta dosagem pode oferecer uma proteção ainda melhor”, explica a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas.