Casa Branca afirma que tarifas não serão integrais para evitar guerra comercial
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (2) um novo pacote de tarifas sobre produtos importados, sob o argumento de aplicar medidas “recíprocas” às barreiras comerciais impostas por outros países. Durante cerimônia na Casa Branca, o republicano afirmou que a iniciativa busca estimular o retorno de indústrias e empregos ao território americano.
A medida é considerada o movimento mais incisivo do atual governo no sentido de adotar uma postura protecionista, o que pode aprofundar o risco de uma guerra comercial de escala global. O presidente se referiu à data como o “Dia da Libertação” e classificou as tarifas como instrumentos de justiça econômica.
De acordo com representantes da Casa Branca, as sobretaxas foram definidas individualmente para cada país, com base em metodologias comerciais consolidadas. Ainda segundo as autoridades, os Estados Unidos aplicarão inicialmente apenas metade do valor considerado adequado em cada caso. Anteriormente, Trump já havia imposto tarifas de 20% sobre todas as importações originárias da China, além de sobretaxar em 25% o aço e o alumínio provenientes de diversos países.
Em relação ao Canadá e ao México, o governo norte-americano adiou a aplicação de tarifas de 25% sobre a maioria dos produtos, em uma tentativa de pressionar esses países a adotarem medidas mais rigorosas no combate ao tráfico de drogas e à imigração ilegal. A suspensão, no entanto, tem validade até esta quarta-feira.
Antes do anúncio oficial, o governo brasileiro demonstrava preocupação quanto aos possíveis impactos da medida. Com poucas informações disponíveis, o Senado aprovou na véspera um projeto de lei que autoriza o Executivo a retaliar comercialmente países que adotem barreiras discriminatórias contra produtos brasileiros. A proposta, que uniu a base governista à bancada ruralista, deve ser analisada pela Câmara ainda nesta semana.
Trump justificou as novas tarifas afirmando que outras nações impõem restrições excessivas às exportações americanas e que a resposta dos EUA busca reverter essa dinâmica, incentivando a reindustrialização do país em setores estratégicos.
Apesar da retórica nacionalista, a iniciativa gerou reações dentro do próprio governo e entre analistas financeiros, que alertam para o risco de inflação e deterioração das relações comerciais internacionais. Segundo relatório do Deutsche Bank Research, as tarifas implementadas até agora já elevaram a média das alíquotas nos EUA para 12%, o maior patamar desde a Segunda Guerra Mundial.
Com a entrada em vigor das novas barreiras, essa média poderá chegar a 18%, aproximando-se dos níveis observados nos anos 1930, após a aprovação da Lei Tarifária Smoot-Hawley — legislação que, segundo historiadores, agravou a crise da Grande Depressão. Economistas alertam que o aumento dos custos para empresas tende a ser repassado ao consumidor final, pressionando os índices de inflação.
Além da China, México e Canadá, Trump já impôs restrições comerciais sobre setores como o de veículos, aço e alumínio. O Brasil aparece entre os países mais afetados pelas sobretaxas sobre o aço, uma vez que blocos e placas semiacabadas estão entre os principais produtos exportados pelos brasileiros ao mercado americano. Em 2024, o Brasil foi responsável por US$ 2,66 bilhões em vendas de aço aos EUA, posicionando-se entre os três maiores fornecedores, ao lado de México e Canadá.
Outro setor potencialmente prejudicado é o de autopeças. Com a recente imposição de tarifas sobre automóveis importados, componentes fabricados no Brasil podem ser atingidos. No ano passado, o país exportou aproximadamente US$ 1,3 bilhão em autopeças para o mercado norte-americano.