Administração americana pede resposta imediata a proposta que prevê desarmamento, cessar‑fogo e governo transitório internacional; grupo palestino analisa texto em Doha
Prazo e ameaça
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ampliou a pressão sobre o Hamas ao estabelecer um novo prazo para que o movimento aceite um plano de paz composto por 20 pontos — sob a advertência de “consequências severas” caso não haja concordância. A data-limite foi fixada para domingo, às 18h (19h em Brasília), pouco depois de o grupo solicitar mais tempo para responder. Em publicação na rede Truth Social, Trump reafirmou que, se a proposta for rejeitada, forças hostis ao Hamas serão alvo de ações intensificadas e que alguns militantes já estariam “militarmente presos”, acrescentando que, se necessário, poderão ser “caçados e mortos”.
Conteúdo central do plano
Formulada pelos Estados Unidos em conjunto com Israel, a proposta contempla, entre outros pontos, o desarmamento do Hamas, um cessar‑fogo imediato, a libertação integral de reféns em troca de prisioneiros palestinos, a retirada gradual das tropas israelenses de Gaza e a instalação de um governo transitório internacional para supervisionar a transição política e de segurança no território. Autoridades israelenses celebraram a iniciativa como um ganho diplomático, argumentando que o texto contribui para isolar o Hamas no cenário regional.
Resistências e impasses
Analistas e fontes diplomáticas destacam que a exigência de desarmamento figura entre os itens historicamente inaceitáveis para o Hamas. Parte da proposta também é vista como problemática por excluir o grupo do futuro quadro político de Gaza e por deixar sem definição o calendário e as condições para a retirada das forças israelenses. Essas lacunas alimentam dúvidas sobre a viabilidade prática do acordo e sobre mecanismos de fiscalização das garantias prometidas.
Negociações em Doha
Lideranças do Hamas reúnem‑se desde o início da semana em Doha para avaliar a proposta. Fontes do movimento indicam que as consultas internas são complexas e podem prolongar‑se por dias, já que é preciso alinhar posições entre a cúpula externa e os comandos em Gaza. A rodada de conversas contou com a presença de mediadores regionais, incluindo países com crescente influência diplomática sobre as partes, como Turquia e Catar, que tentam articular uma saída negociada para o conflito que está próximo de completar dois anos.
Dissenso interno no Hamas
Relatos de integrantes próximos ao processo apontam para divisões internas: um segmento seria favorável à aceitação imediata em troca de um cessar‑fogo com garantias externas; outro exige mudanças substantivas no texto, rejeitando cláusulas sobre desarmamento e expulsão política e condicionando a aprovação a salvaguardas que atendam às exigências das facções em Gaza. Entre as demandas figura também a garantia de que não haverá “tentativas de assassinato” contra líderes do movimento, dentro ou fora do enclave.
Avaliação dos mediadores
Especialistas ouvidos por agências internacionais observam que a influência de países terceiros pode ser decisiva, mas sublinham que convencer os negociadores em Doha não resolve a necessidade de obter aceitação e controle efetivo sobre os combatentes no terreno. Para alguns analistas, qualquer acordo exigiria mecanismos robustos de implementação e verificação para transformar cláusulas políticas e militares em medidas concretas de segurança e proteção civil.
Risco de escalada
A insistência americana em prazos rígidos e a retórica de ameaça elevam o risco de nova escalada do conflito, segundo observadores internacionais. A imposição do desarmamento em um contexto de alta volatilidade militar e humanitária suscita dúvidas sobre a capacidade de evitar novos episódios de violência e de garantir a proteção da população civil de Gaza durante e após uma eventual transição.