Presidente inaugura campo de golfe na Escócia, promove criptomoedas e reforça elo entre interesses privados e diplomacia internacional
Expansão de negócios com respaldo presidencial
No segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump tem adotado uma postura mais explícita na promoção de seus interesses empresariais. Deixando de lado a moderação que marcou sua primeira passagem pela Casa Branca, o republicano inaugurou nesta terça-feira (29) um novo campo de golfe que leva seu nome, na cidade de Balmedie, Escócia.
A cerimônia, transmitida ao vivo pelo canal oficial da Casa Branca no YouTube, contou com gaitas de fole, fogos de artifício e trilha sonora da campanha eleitoral — como a clássica YMCA, do Village People. Trump esteve acompanhado do filho Eric, responsável pelo projeto do novo campo, e de autoridades britânicas, incluindo o primeiro-ministro Keir Starmer e o premiê escocês John Swinney. Este último causou controvérsia ao conceder subsídios para a realização de um torneio de golfe na propriedade.
— Queríamos que este fosse o melhor campo de 36 buracos do mundo. E não há dúvida de que conseguimos — afirmou Eric Trump durante o evento, ao lado do pai.
Acusações de favorecimento diplomático
A proximidade entre negócios privados e ações governamentais tem despertado críticas. Segundo Noah Bookbinder, diretor da ONG Cidadãos pela Responsabilidade e Ética em Washington (CREW), a situação levanta suspeitas sobre a possível influência de interesses financeiros nas decisões diplomáticas da Casa Branca.
— Tudo isso dá a impressão de que governos estrangeiros pagam ou prestigiam os negócios de Donald Trump em aparentes tentativas de agradá-lo e obter um tratamento melhor em questões políticas importantes, incluindo acordos comerciais — declarou Bookbinder. Ele classificou o cenário como “profundamente preocupante”.
Apesar das críticas, um porta-voz da Casa Branca afirmou que não há qualquer irregularidade na estadia do presidente na Escócia, lembrando que os bens de Trump estão sob gestão de um fideicomisso operado pelos filhos.
Questionado se o evento constituía conflito de interesses, o presidente desconversou:
— Não ouvi nada disso — respondeu, mudando imediatamente de assunto.
Encontros estratégicos e retorno dos negócios internacionais
Durante a viagem, Trump também recebeu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em outro de seus resorts na Escócia, o luxuoso Turnberry. A expectativa da família é que o local possa sediar, futuramente, o tradicional Aberto Britânico.
Além dos campos de golfe, os filhos de Trump continuam envolvidos em diversas frentes de negócios, com incentivo explícito do pai — mesmo que ele, oficialmente, não os dirija. A Trump Organization, liderada por Eric e Donald Jr., expandiu sua atuação internacional, rompendo com a moratória de investimentos estrangeiros declarada durante o primeiro mandato.
Criptomoedas e redes sociais como ferramentas de lucro
Outro setor que tem sido explorado pela família Trump é o das criptomoedas. O ex-presidente tem promovido ativamente o $TRUMP, um “meme coin” ligado à sua imagem, por meio da rede social Truth Social, plataforma controlada pela Trump Media.
Em abril, Trump organizou um jantar privado para os 25 principais detentores do ativo, gesto amplamente criticado por especialistas em ética governamental. Paralelamente, sua esposa, Melania Trump, também se engajou em projetos comerciais, como um documentário distribuído pela Amazon.
Negócios com o Oriente Médio levantam suspeitas
Laços financeiros com o Oriente Médio também estão no radar. A família Trump é apontada como ligada à empresa de criptomoedas World Liberty Financial, cujo site lista o presidente como “cofundador emérito”. A companhia foi alvo de críticas após uma transação recente com uma firma sediada em Abu Dhabi.
Durante um giro pela região, Trump teria atendido a uma demanda das autoridades dos Emirados Árabes para adquirir eletrônicos de alta tecnologia dos EUA. Na mesma ocasião, teria aceitado um jato Boeing como presente do governo do Catar, fato interpretado por parlamentares democratas como um possível conflito de interesses.
Negócio e governo sem fronteiras claras
Diferentemente do primeiro mandato, quando a Trump Organization impôs uma política de contenção em relação a parcerias com empresas estrangeiras, o segundo mandato parece ter deixado essa cautela de lado. As fronteiras entre interesses públicos e privados seguem cada vez mais turvas, alimentando o debate sobre a ética no exercício do cargo mais poderoso do planeta.