Decisão visa pressionar Maduro, enfraquecer o regime e enviar recados a países da América Latina
Operações secretas e letais contra Maduro
O governo Donald Trump autorizou formalmente a CIA a conduzir operações secretas e letais na Venezuela com o objetivo de destituir o ditador Nicolás Maduro. A informação foi antecipada pelo The New York Times nesta quarta-feira (15) e confirmada pelo presidente americano horas depois, em declaração à imprensa na Casa Branca. Trump afirmou que a Venezuela “está sentindo a pressão” e não descartou ações em solo venezuelano.
Estratégia militar alinhada com o Estado-Maior
Fontes americanas ligadas a discussões sobre a Venezuela informaram à Folha de S.Paulo que o presidente dispõe de uma série de planos para asfixiar o regime de Maduro. A estratégia seria coordenada com o general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, e prevê operações militares nos arredores do país, sem invasão direta, e o uso de inteligência americana para capturar o líder venezuelano. O sinal pretendido é claro: Maduro deve se entregar ou enfrentar prisão ou morte.
Comparação com assassinato de Qassim Suleimani
Um interlocutor da ala linha-dura do governo comparou a operação à que resultou na morte do major-general Qassim Suleimani, chefe da segurança iraniana, atingido por drone americano em 2020. A estratégia de pressão para mudança de regime conta com o apoio do secretário de Estado Marco Rubio, sobrepondo-se à abordagem de Richard Grenell, enviado para missões especiais, que defendia negociações com Maduro.
Objetivos adicionais e mensagens à América Latina
Além da mudança de regime, as operações têm como finalidade enviar sinais a países da América Latina, incluindo o Brasil e, especialmente, o México, sobre a intolerância dos EUA à atuação do crime organizado. Outro objetivo é reforçar a postura ofensiva do Departamento de Defesa — renomeado por Trump como Departamento de Guerra — e demonstrar a capacidade de atuação conjunta ou autônoma da CIA em operações militares de larga escala.
Abandono da diplomacia e foco na força
Segundo o New York Times, Trump autorizou as operações após constatar pouco avanço nos esforços diplomáticos. A Casa Branca rejeitou um acordo que garantiria aos EUA participação na indústria petrolífera venezuelana, priorizando a retirada de Maduro do poder pela força, estratégia defendida por Rubio e pelo diretor da CIA, John Ratcliffe.
Aumento da presença militar americana no Caribe
Embora não haja decisão sobre invasão, o governo americano reforçou sua presença militar na região, com mais de 10 mil soldados, oito navios de guerra e um submarino, superando a capacidade bélica da Venezuela. Também estão sendo considerados bombardeios, ataques aéreos e operações terrestres, o que poderia configurar estado de guerra aberto.
Limites jurídicos e justificativas legais
Questões constitucionais americanas limitam a declaração de guerra ao Congresso, exigindo apoio do Partido Democrata. Por isso, a Casa Branca busca enquadrar as ações como parte da campanha contra o narcotráfico, justificativa usada em ataques que resultaram na morte de 27 pessoas em águas internacionais desde setembro. Recentemente, Trump comunicou ao Congresso que os EUA estão “em situação de conflito armado” com narcotraficantes latino-americanos, permitindo ataques unilaterais quando não há risco às forças americanas.
Acusações contra Maduro e recompensas
O governo americano acusa Maduro de chefiar o suposto Cartel de los Soles e de ter vínculos com a facção Tren de Aragua, hipóteses questionadas por relatórios internos de inteligência. Em agosto, o Departamento de Justiça dobrou a recompensa por informações que levem à captura de Maduro, oferecendo US$ 50 milhões, classificando-o como ameaça à segurança dos EUA e um dos maiores narcotraficantes do mundo.
Histórico de intervenção da CIA na América Latina
A decisão de Trump ocorre em um contexto histórico de longa interferência da CIA na região, incluindo golpes que depuseram líderes como João Goulart, em 1964, no Brasil, marcados por tortura, assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos.