Imagens da megaoperação na Penha e no Alemão mostram criminosos do Comando Vermelho com vestuário e acessórios táticos avançados; especialista diz que técnica policial ainda garante vantagem
Criminosos do Comando Vermelho (CV) vêm adotando equipamentos militares de alto nível para enfrentar ações das forças de segurança no Rio de Janeiro. Durante a megaoperação realizada nesta terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte, traficantes foram filmados utilizando peças como balaclavas, gandolas, calças camufladas, bandoleiras e coturnos táticos, além de acessórios estratégicos normalmente associados às Forças Armadas e unidades policiais especializadas.
Equipamento de guerra disponível legalmente
Apesar da aparência bélica, os materiais exibidos podem ser adquiridos legalmente pela internet, sem qualquer irregularidade. Segundo o analista de segurança Alessandro Visacro, esses itens são vendidos para a prática de airsoft, paintball e caça esportiva, mas vêm sendo incorporados pelo crime para reforçar a atuação em confrontos.
“Você tem disponível para compra na internet desde o uniforme, com coturno e colete, até tracking [localizador] para drone”, afirma Visacro. Ele explica que o uso desses equipamentos oferece benefícios táticos, sobretudo em fugas e movimentações em áreas de mata. “Se você tiver calçando um coturno ou uma bota tática, é muito melhor do que estar com uma sandália, ou então uma roupa camuflada, que te torna um alvo mais furtivo.”
Uso em disputas territoriais e confronto entre facções
O emprego desse tipo de vestimenta e acessórios não se limita a confrontos com as forças policiais. O material também tem sido usado em disputas entre facções rivais. Em outubro de 2024, criminosos do CV detidos durante uma invasão à comunidade do Catiri, na Zona Oeste, usavam fardas do tipo “ghillie”, com folhagem artificial para camuflagem. A Polícia Militar classificou o material como “artigos comumente utilizados em situações de confronto armado”.
Conhecidos como “homens samambaia”, os criminosos receberam esse apelido justamente pelo traje, tradicionalmente usado por atiradores de elite.
Polícia mantém vantagem pelo treinamento, diz analista
Embora reconheça que, em alguns casos, o nível do equipamento utilizado pelos traficantes supera o das forças policiais, Visacro destaca que o treinamento das corporações ainda é determinante para garantir superioridade operacional.
“A despeito dessa diferença material, as nossas forças de segurança pública têm demonstrado uma proficiência superior no uso desses itens em relação aos criminosos”, aponta. “A técnica, sem dúvidas, é muito mais importante do que o equipamento.”



