Com alerta de Trump sobre retração econômica, mercados caem nos EUA e dólar sobe para R$ 5,85 no Brasil
Os mercados financeiros nos Estados Unidos registraram forte queda nesta segunda-feira (10), refletindo o crescente temor de uma recessão econômica no país. O pessimismo foi impulsionado por declarações do presidente Donald Trump, que, em entrevista à Fox News no domingo, sugeriu um possível período de transição econômica. O impacto foi imediato: o índice Nasdaq 100, que concentra empresas de tecnologia, recuou 4%, representando uma perda de US$ 1,1 trilhão em valor de mercado, a maior retração desde 2022. O Dow Jones caiu 2,08%, enquanto o S&P 500 teve queda de 2,70%.
A volatilidade do mercado se refletiu no VIX, conhecido como “índice do medo”, que disparou 20,3%. No Brasil, o impacto também foi sentido. O Ibovespa encerrou o dia com uma baixa de 0,41%, fechando aos 124.519 pontos, enquanto o dólar teve alta de 1,05%, alcançando R$ 5,85.
Os comentários de Trump, que tentava minimizar as preocupações sobre uma recessão, foram mal recebidos pelos investidores. “Detesto prever coisas como essas”, disse o presidente. “Estamos passando por um período de transição, pois o que estamos fazendo é muito grande. Estamos trazendo a riqueza de volta aos Estados Unidos, mas isso leva tempo.” A reação negativa dos mercados destaca a incerteza sobre as políticas econômicas de seu governo e seus efeitos sobre a economia americana.
Impacto das políticas econômicas
Especialistas apontam que as medidas adotadas por Trump, incluindo a escalada na guerra comercial e as demissões em massa no setor público, aumentam os riscos de desaceleração econômica. Tarifas sobre importações, particularmente as aplicadas à China, tendem a pressionar os preços ao consumidor, alimentando a inflação e reduzindo o poder de compra. Além disso, a deportação de imigrantes, que representam uma parcela significativa da mão de obra em setores-chave, pode afetar a produtividade e a competitividade das empresas.
Outro fator de preocupação é o distanciamento do governo em relação ao mercado financeiro. Na última quinta-feira, Trump declarou que não está focado na Bolsa de Valores, enquanto o secretário do Comércio, Howard Lutnick, afirmou que os movimentos do mercado não determinarão as ações do governo. “A administração Trump deixou claro que a estabilidade dos mercados não é uma prioridade de curto prazo”, destacou Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad.
Setor de tecnologia em queda
As empresas do setor de tecnologia, conhecidas como as “Sete Magníficas” — Apple, Amazon, Alphabet (Google), Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla —, foram duramente atingidas pelo movimento de aversão ao risco. A Tesla, de Elon Musk, viu suas ações despencarem 15,43%, eliminando os ganhos acumulados desde a eleição de Trump. O declínio foi agravado por revisões negativas de analistas de mercado sobre as expectativas de entrega de veículos da empresa. Além disso, a presença de Musk no governo, à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge), gerou insatisfação entre consumidores, resultando em boicotes à marca.
Projeções econômicas preocupantes
A incerteza econômica levou analistas a revisarem suas projeções de crescimento para os Estados Unidos. O banco Goldman Sachs reduziu sua estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2025, de 2,4% para 1,7%. Já a unidade de Atlanta do Federal Reserve (Fed) projeta uma retração anualizada de 2,4% no primeiro trimestre, o que, se confirmado, marcaria a primeira contração trimestral da economia americana desde 2022.
Gennadiy Goldberg, chefe de estratégia de juros da TD Securities, destacou a mudança de humor no mercado. “Há algumas semanas, falávamos sobre uma possível aceleração da economia dos EUA. Agora, de repente, a palavra ‘recessão’ está sendo mencionada repetidamente”, afirmou à Bloomberg.
O Barclays, embora não veja uma recessão como inevitável, considera o risco crescente. “A incerteza sobre tarifas, demissões e o fraco desempenho do mercado acionário podem desencadear uma retração no consumo, o que não pode ser descartado”, alertaram estrategistas do banco em nota recente.
Inflação e política monetária
A inflação continua sendo um dos fatores de maior preocupação para os investidores. Em janeiro, o índice de preços ao consumidor subiu 3% em relação ao ano anterior, acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed. A divulgação dos dados de fevereiro, prevista para esta semana, poderá reforçar as expectativas de inflação elevada, especialmente diante das novas tarifas sobre importações e da política de restrição à imigração, que tende a encarecer a mão de obra em diversos setores.
Com o aumento da incerteza e a volatilidade nos mercados, economistas alertam que a economia americana pode enfrentar um período turbulento nos próximos meses. Se o cenário de recessão se concretizar, os impactos poderão ser sentidos globalmente, especialmente em países emergentes como o Brasil, onde o dólar já reflete as preocupações dos investidores internacionais.