Setor industrial segue como o mais afetado, apesar da retirada de 238 produtos da lista do tarifaço
Percentual de exportações sob sobretaxa diminui, mas impacto permanece
O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, informou que 22% das exportações brasileiras aos Estados Unidos continuam submetidas às sobretaxas impostas por Washington. A declaração ocorreu no Palácio do Planalto, um dia após a Casa Branca anunciar a retirada de 238 itens do chamado tarifaço.
Segundo Alckmin, essa foi a decisão “mais significativa até agora” no âmbito das negociações bilaterais. Ele lembrou que, quando as tarifas foram implementadas, 36% das vendas brasileiras ao mercado norte-americano eram alvo das alíquotas adicionais.
“Gradualmente, tivemos decisões que ampliaram as isenções. Com a retirada dos 238 produtos, reduzimos para 22% a fatia da exportação sujeita ao tarifaço”, afirmou.
Retirada de tarifas afeta sobretudo itens agrícolas
A decisão do governo dos Estados Unidos, comandado por Donald Trump, revogou a tarifa extra de 40% sobre uma série de produtos, em sua maioria agrícolas — entre eles café, carne bovina, banana, tomate, açaí, castanha de caju e chá.
A medida tem efeito retroativo a 13 de novembro, permitindo o reembolso de cargas já exportadas.
Impacto no comércio externo brasileiro
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram como ficam as exportações brasileiras aos EUA, considerando os US$ 40,4 bilhões exportados em 2024:
- US$ 8,9 bilhões seguem sujeitos à tarifa adicional de 40% (ou 10% mais 40%, dependendo do produto);
- US$ 6,2 bilhões continuam sob a tarifa extra de 10%;
- US$ 14,3 bilhões estão totalmente livres de sobretaxas;
- US$ 10,9 bilhões permanecem submetidos às tarifas horizontais da Seção 232, que incidem sobre siderurgia e alumínio.
A secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, destacou que a parcela de exportações totalmente livre de sobretaxas cresceu 42% desde o início da crise. Apesar disso, ela ponderou que o setor industrial segue como o mais prejudicado.
“Para a indústria, a busca de mercados alternativos é mais complexa do que para commodities”, afirmou. Como exemplo, citou que aeronaves da Embraer ainda enfrentam tarifa extra de 10%.
Negociações avançam, diz governo
Alckmin atribuiu o avanço recente ao diálogo entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante uma reunião na Malásia, em outubro. Segundo ele, o governo brasileiro enviou aos EUA, em 4 de novembro, uma proposta de acordo comercial, cujo conteúdo ainda não foi divulgado.
O ministro ressaltou que o Brasil trabalha para remover novos produtos da lista tarifada e que os debates incluem aspectos tarifários e não tarifários, envolvendo temas como terras raras, big techs, energia renovável e o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata).
Alckmin confirmou também que Lula apresentou questionamentos sobre a aplicação da Lei Magnitsky, que motivou sanções a autoridades brasileiras. Ainda não há previsão de novo encontro entre os presidentes, embora Lula tenha convidado Trump para visitar o Brasil.
Segmentos industriais seguem como principal foco de preocupação
Mesmo com o alívio para diversos produtos agrícolas, o governo considera que os setores industriais continuam sendo os mais vulneráveis. Segmentos que produzem itens personalizados ou de maior valor agregado têm mais dificuldade de redirecionar suas vendas a outros mercados.
Alckmin disse que as tratativas prosseguem e que o governo busca ampliar o número de exceções. “Continuamos otimistas. O trabalho não terminou, mas avança com menos barreiras”, declarou



