A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) expressa preocupação com o “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos, afirmando que 85,7% das exportações gaúchas não foram beneficiadas pelas isenções, ameaçando 140 mil empregos.
Mesmo com a concessão de isenções tarifárias para cerca de 700 produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) avalia que o impacto positivo para as empresas gaúchas será mínimo. Em declaração nesta sexta-feira (1º), Claudio Bier, presidente da federação, enfatizou que o Rio Grande do Sul é o estado mais afetado pela medida anunciada pelo governo de Donald Trump, uma vez que 85,7% de suas exportações ficaram de fora da lista de produtos isentos.
“São 140 mil postos de trabalho que podem ter seus empregos abalados”, alertou Bier. Ele acrescentou que as indústrias necessitam de um “fôlego” para se reorganizar, pois, enquanto a tarifa de 50% persistir, serão forçadas a buscar novos mercados, inclusive o nacional, ou “se reinventar”.
Medidas de apoio e prevenção ao desemprego
Guilherme Scozziero, coordenador do Conselho de Relações Trabalhistas da Fiergs, informou que a federação, em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), proporá ao governo federal a implementação de medidas já utilizadas durante a pandemia e após as enchentes de maio, como a suspensão de contratos de trabalho. O objetivo é evitar um cenário de demissões em massa.
“Existem férias coletivas, existem bancos de horas, mas isso tudo tem um tempo muito limitado”, ponderou Scozziero, que defende ações mais abrangentes para preservar os postos de trabalho. Ele reforçou: “Se não vierem medidas de apoio a essas indústrias atingidas, medidas realmente efetivas de suspensão de contrato de trabalho, de redução de jornadas e salários, nós vamos sim, depois disso, ter um desemprego muito grande.” Contudo, Scozziero destacou que demitir é sempre a última alternativa considerada pelas empresas, que “partem sempre por uma maneira de atenuar os impactos”.
Impacto econômico e setores mais vulneráveis
Apesar dos desafios, a indústria gaúcha registrou um crescimento de 0,6% em 2024 em comparação ao ano anterior, um resultado que surpreendeu os próprios industriários, que enfrentaram um período de interrupções na produção e problemas logísticos causados pelas enchentes.
Inicialmente, a projeção do governo gaúcho para a perda no PIB do Rio Grande do Sul com o tarifaço era de R$ 1,9 bilhão. Após a divulgação da lista de itens isentos, a estimativa foi revisada para R$ 1,5 bilhão.
Em resposta, o governador Eduardo Leite (PSD) anunciou a liberação de R$ 100 milhões em crédito para as empresas exportadoras do Rio Grande do Sul, disponíveis a partir desta segunda-feira (4). A Fiergs, no entanto, já solicitou que esse valor seja, no mínimo, dobrado.
O segmento mais vulnerável é o de produtos de metal, que exportou US$ 324,9 milhões para os Estados Unidos em 2024, representando 35,8% do total das exportações do setor. Este grupo inclui caldeiras, tanques, facas, embalagens metálicas como latas, ferramentas e objetos de serralheria, forja e funilaria. A Taurus, principal fabricante de armas do país, por exemplo, destinou 85,9% de sua produção – cerca de US$ 170,2 milhões – para o mercado americano.
Em seguida, está o setor de máquinas e materiais elétricos, com exportações de US$ 114,6 milhões, ou 42,5% do total. O grupo calçadista também será impactado, com 19,4% de sua produção, o equivalente a US$ 176,2 milhões, direcionada ao mercado americano. Como muitos produtos são fabricados sob a bandeira de marcas dos próprios Estados Unidos, o setor pode enfrentar dificuldades ainda maiores para redirecionar as vendas a outros mercados.
Encontrar novos compradores em um prazo tão curto, no entanto, é um desafio considerável. “Não se faz um mercado exportador de uma hora para outra”, salientou Bier.
Diálogo e preocupações diplomáticas
Para o presidente da Fiergs, a solução passa pela intensificação do diálogo diplomático entre o Brasil e o governo dos Estados Unidos, evitando retaliações que poderiam encarecer produtos importados e afetar outros segmentos da indústria nacional. Bier também manifesta temor pela imprevisibilidade de Trump, alertando para a necessidade de cautela.
“Nós vamos cutucar um leão com vara curta. os estados unidos têm um presidente que, quando ele é fustigado, aumenta ainda mais sua raiva e sua maneira de agir. acho que temos que ter muita paciência, muito diálogo”, concluiu Bier. (Com Folhapress)