Governador de São Paulo tem reuniões com ministros em Brasília para discutir questões tributárias e retomar pontes políticas com o Judiciário
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), esteve em Brasília nesta terça-feira (28) para uma série de reuniões com ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do STJ (Superior Tribunal de Justiça). A agenda, que oficialmente trata de temas tributários de interesse do estado, também marca um gesto político de reaproximação com o Judiciário após o desgaste provocado por seu discurso no ato bolsonarista de 7 de Setembro, quando chamou o ministro Alexandre de Moraes de “tirano”.
Encontros no STJ e no STF
A primeira reunião do governador ocorreu com o ministro do STJ, Marco Aurélio Bellizze Oliveira, seguida de encontros no Supremo com Kassio Nunes Marques, vice-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e com o presidente da corte, Edson Fachin.
No STJ, Tarcísio discutiu ações de interesse fiscal do governo paulista. Uma delas trata da base de cálculo do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação). Outra envolve a prescrição de processos por danos morais e materiais em casos relacionados aos chamados “crimes de maio” de 2006, quando houve mortes em ações policiais após ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Já no STF, o governador tenta reverter uma decisão que suspendeu o recolhimento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) por parte da Rodopetro Distribuidora de Petróleo. O governo paulista alega que o Grupo Refit, que revende o combustível, acumula uma dívida de R$ 9,7 bilhões com o estado.
Crise e tentativa de recomposição
A visita a Brasília ocorre pouco mais de um mês após Tarcísio acirrar tensões com o Supremo. No 7 de Setembro, ele chamou Moraes de “tirano”, num discurso que elevou o tom e foi interpretado como um rompimento com o Judiciário. O episódio gerou reações entre ministros, que sugeriram, reservadamente, que o governador procurasse a corte para se retratar — o que não ocorreu oficialmente.
Aliados tentaram minimizar o impacto da fala, descrevendo-a como um “desabafo” fora do padrão habitual de Tarcísio.
O gesto desta terça-feira, portanto, é visto como uma tentativa de reconstruir pontes. Interlocutores do governador afirmam que, além das questões jurídicas, ele busca demonstrar que segue focado na gestão paulista, e não em disputas políticas de âmbito nacional.
Ausência criticada e reposicionamento político
No fim de setembro, Tarcísio causou estranhamento ao não comparecer à posse de Edson Fachin na presidência do STF — apesar de estar em Brasília naquele dia, em visita ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar. A ausência foi criticada até por aliados, que viram ali uma oportunidade perdida de recompor relações institucionais.
Agora, o encontro com Fachin é o primeiro gesto oficial de reaproximação. Segundo o governo paulista, a pauta tratou de um caso em tramitação na corte, mas o Supremo não divulgou detalhes e não houve declarações à imprensa.
Foco em São Paulo e afastamento da corrida presidencial
A ida à capital federal também reflete o esforço de Tarcísio em reforçar sua imagem de gestor estadual, em meio à pressão de setores políticos e empresariais que o querem como sucessor de Bolsonaro em 2026.
Alvo de críticas do bolsonarismo mais radical, incluindo filhos do ex-presidente, o governador decidiu recuar e reafirmar que buscará a reeleição em São Paulo.
Nesta quarta-feira (29), ele participa ainda da filiação do deputado Pedro Lupion (PP-PR) ao Republicanos, seu partido. Até o momento, não há previsão de visita a Bolsonaro — o que exigiria autorização judicial do ministro Alexandre de Moraes.



