Governador de São Paulo adota discurso mais radical contra Alexandre de Moraes e surpreende ministros do STF
Discurso acirrado gera reação imediata no Supremo
A mudança de postura de Tarcísio de Freitas, até então visto como articulador moderado entre o bolsonarismo e o Supremo Tribunal Federal (STF), gerou perplexidade na Corte. Durante ato na Avenida Paulista, o governador de São Paulo atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, afirmando que “ninguém aguenta mais a tirania” do magistrado. A declaração foi recebida como afronta inesperada por ministros do STF, que avaliavam Tarcísio como um político distante da ala mais radical de apoiadores de Jair Bolsonaro.
Um integrante da Corte observou que, como governador do estado mais rico do país, Tarcísio não poderia se alinhar ao tom de lideranças como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ou o pastor Silas Malafaia. Outro magistrado considerou que, ao adotar o discurso agressivo, o chefe do Executivo paulista buscou sinalizar fidelidade ao ex-presidente com vistas a consolidar sua candidatura à sucessão em 2026.
Histórico de aproximação com Moraes
Nos últimos anos, Tarcísio atuou nos bastidores para reduzir tensões entre o bolsonarismo e o Supremo. Em 2023, foi ele quem intermediou uma reunião reservada entre o senador Jorge Seif (PL-SC) e Alexandre de Moraes, evitando risco de cassação do mandato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também recuou em nomeações no Ministério Público paulista para não confrontar o ministro.
A relação entre ambos se consolidou ainda durante o governo Bolsonaro. À época, Tarcísio, então ministro da Infraestrutura, manteve interlocução com o ex-presidente Michel Temer — responsável por indicar Moraes ao STF — em tentativa de suavizar embates entre o ex-capitão e o magistrado.
Pressão do bolsonarismo radical
Esse perfil conciliador, contudo, sempre incomodou apoiadores mais fiéis de Bolsonaro. Parlamentares da oposição criticaram a falta de avanços concretos de Tarcísio em temas sensíveis, como a decisão de Moraes que reteve o passaporte do ex-presidente.
Na tentativa de se consolidar como herdeiro político, o governador passou a adotar discurso mais contundente. Na última semana, afirmou que, se eleito presidente, assinaria indulto a Bolsonaro e articulou em Brasília pela aprovação de uma anistia irrestrita. A escalada de declarações foi vista no STF como rompimento definitivo de pontes institucionais.
STF reage e Centrão vê risco de isolamento
O endurecimento do discurso levou Moraes a responder de forma indireta, advertindo que “a impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação”. No domingo, o decano do Supremo reforçou a mensagem, afirmando que “crimes contra o Estado Democrático de Direito são insuscetíveis de perdão” e que cabe às instituições puni-los com rigor.
Entre líderes do Centrão, a avaliação é de que Tarcísio pode estar exagerando na busca pela bênção de Bolsonaro. Para esses dirigentes, o governador deveria concentrar esforços em ampliar alianças com partidos de centro, preservando um tom institucional, e não se prender ao discurso da direita radical.
Futuro incerto para 2026
A guinada de Tarcísio revela a tentativa de consolidar espaço como candidato do bolsonarismo em 2026. No entanto, há dúvidas sobre sua viabilidade eleitoral caso insista em priorizar a retórica de confronto. Aliados de centro temem que o ex-presidente o utilize apenas como instrumento de pressão contra o STF, sem necessariamente apoiá-lo até o fim.
Colocar Bolsonaro acima de tudo pode garantir visibilidade a Tarcísio de Freitas, mas não assegura que ele conseguirá transformar esse capital político em votos suficientes para alcançar o Planalto.