Diante de inflação resistente, Copom confirma ajuste na Selic e sinaliza cautela nos próximos passos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, nesta quarta-feira (19), a elevação da taxa Selic em um ponto percentual, passando de 13,25% para 14,25% ao ano. O novo patamar iguala os níveis observados durante a crise do governo Dilma Rousseff (PT) e reflete a necessidade de conter a pressão inflacionária no país.
A decisão foi unânime entre os membros do comitê, que indicaram que os juros continuarão subindo na próxima reunião, prevista para maio. No entanto, o BC sinalizou que o ritmo das elevações pode ser menos agressivo. O comunicado enfatizou que a continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, a elevada incerteza e o impacto defasado da política monetária justificam a necessidade de manutenção de uma postura contracionista.
Contexto e justificativas do Copom
Com essa nova elevação, a Selic retorna ao patamar registrado em outubro de 2016, período em que os juros permaneceram estacionados em 14,25% por mais de um ano, durante a recessão econômica e o processo de impeachment de Dilma. O Copom reiterou que a extensão do ciclo de alta dependerá do comportamento da inflação, das expectativas do mercado e do equilíbrio entre o crescimento econômico e os riscos fiscais.
O Banco Central defendeu que uma política monetária mais rígida é essencial para frear a atividade econômica e conter a escalada de preços. O cenário econômico atual é caracterizado por uma inflação persistente, expectativas em alta e pressões no mercado de trabalho. No cenário de referência do Copom, a projeção para o IPCA deste ano recuou levemente de 5,2% para 5,1%, mas segue acima do teto da meta. Para o terceiro trimestre de 2026, período monitorado pelo BC, a estimativa caiu de 4% para 3,9%.
Sob o comando de Gabriel Galípolo, o Copom completou três elevações consecutivas de um ponto percentual, cumprindo o compromisso assumido em dezembro do ano passado de um ajuste mais agressivo nos juros. A decisão já era amplamente esperada pelo mercado financeiro, conforme apontado por levantamentos realizados antes da reunião.
Histórico do ciclo de alta dos juros
Desde o início do ciclo de aperto monetário, em setembro de 2024, o Banco Central já promoveu cinco aumentos consecutivos na taxa Selic. A taxa básica de juros passou de 10,5% para os atuais 14,25%, acumulando uma elevação de 3,75 pontos percentuais. A primeira alta ocorreu ainda sob a gestão de Roberto Campos Neto, com um ajuste inicial mais moderado de 0,25 ponto percentual. Em novembro, o Copom acelerou o ritmo para 0,5 ponto percentual, e em dezembro optou por uma elevação mais robusta de um ponto percentual, que se repetiu nas reuniões seguintes.
A decisão de manter o ajuste no patamar prometido no final do ano passado foi reafirmada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Esse aumento já estava previsto no guidance [orientação] estabelecido anteriormente pelo Banco Central”, declarou o ministro, que afirmou que fará uma análise mais detalhada após a divulgação da ata da reunião, prevista para a próxima terça-feira (25).
Impacto das expectativas inflacionárias e riscos fiscais
Desde o início do ano, as expectativas para a inflação pioraram, especialmente para 2026. Segundo o último Boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA fechará o próximo ano próximo ao teto da meta de 4,48%. Para 2025, a projeção é ainda mais preocupante, atingindo 5,66%, bem acima do centro da meta de 3% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Além das pressões inflacionárias, há preocupações sobre a política fiscal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Medidas recentes, como a ampliação do crédito consignado para trabalhadores do setor privado e a liberação do saldo do FGTS, levantaram dúvidas sobre o impacto das políticas expansionistas no controle da inflação. A proposta de isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5.000 mensais também enfrenta resistência no Congresso devido à sugestão de compensação com a tributação de grandes fortunas.
O Copom manteve o alerta sobre os impactos fiscais na política monetária. “A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas do mercado”, destacou o comunicado do BC.
Incertezas no cenário internacional
No âmbito global, a guerra comercial conduzida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adiciona mais incerteza ao cenário econômico. As tarifas impostas pelo governo norte-americano levantam dúvidas sobre seus efeitos na inflação global e sobre a resposta do Federal Reserve (Fed), que nesta quarta-feira manteve a taxa de juros dos EUA entre 4,25% e 4,50% ao ano. Para o Banco Central brasileiro, o cenário internacional continua desafiador, exigindo cautela por parte dos países emergentes.
O BC revisou a cotação do dólar em suas projeções, reduzindo a estimativa de R$ 6 para R$ 5,80, refletindo uma ligeira melhora na percepção de risco do mercado.
Perspectivas para a economia brasileira
No cenário doméstico, o Copom apontou sinais iniciais de desaceleração do crescimento econômico, embora o mercado de trabalho e os indicadores de atividade sigam robustos. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,4% em 2024, mas perdeu fôlego no último trimestre do ano, segundo o IBGE.
O comitê reiterou que há mais riscos de alta do que de baixa para a inflação. Entre os fatores de pressão, estão a persistência das expectativas inflacionárias acima da meta, a resiliência dos preços de serviços e a influência do câmbio. Já entre os elementos que podem conter a inflação, o BC mencionou a possibilidade de uma desaceleração econômica global e de um ambiente mais favorável para as economias emergentes.
Diante do impacto defasado da política monetária sobre a economia, o Banco Central agora direciona seu foco para a inflação do terceiro trimestre de 2026, conforme a estratégia de meta contínua. Atualmente, o Copom tem maioria de membros indicados pelo presidente Lula, com sete dos nove integrantes do comitê.
A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 6 e 7 de maio, quando o Banco Central decidirá os próximos passos para a política monetária do país.