Apoiado por 23 federações, dirigente da Federação Roraimense de Futebol inviabiliza candidatura de Reinaldo Carneiro Bastos, da FPF
A eleição para o comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), marcada para 25 de maio, deve ocorrer com chapa única. O presidente da Federação Roraimense de Futebol (FRF), Samir Xaud, oficializou sua candidatura com o apoio de 23 das 27 federações estaduais, número suficiente para impedir a inscrição de uma candidatura adversária.
Para concorrer ao cargo máximo da CBF, são necessárias assinaturas de no mínimo oito federações e cinco clubes. O apoio consolidado a Xaud inviabilizou os planos de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), que obteve respaldo público de 32 clubes, mas não conseguiu o número mínimo de federações estaduais.
A chapa liderada por Samir Xaud conta com oito vices: Flávio Zveiter, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD); Michelle Ramalho, da Federação Paraibana; José Vanildo, do Rio Grande do Norte; Ricardo Paul, do Pará; Ednailson Rozenha, do Amazonas; Rubens Angelotti, de Santa Catarina; Fernando Sarney, atual presidente interino da CBF; e Gustavo Dias Henrique, presidente da Federação do Distrito Federal.
Gustavo Dias Henrique é apontado como próximo de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e fundador do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), entidade parceira da CBF Academy. Foi Mendes quem concedeu a liminar que permitiu o retorno de Ednaldo Rodrigues à presidência da entidade após o primeiro afastamento, em 2023.
Dos nomes que compõem a chapa de Xaud, Gustavo, Ednailson e Rubens já haviam sido eleitos para um mandato que se iniciaria em 2026, ao lado de Ednaldo Rodrigues. Agora, deverão ocupar as vice-presidências no quadriênio 2025-2029.
As únicas federações que não apoiaram a candidatura de Xaud foram as de São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso e Tocantins. Entre os clubes, Samir conta com apoio formal de Palmeiras, Grêmio, Botafogo e Vasco (da Série A) e de Remo, Paysandu, Athletico e Volta Redonda (da Série B).
A entrada de Flávio Zveiter como vice representa uma das principais novidades da composição. Zveiter, que chegou a ser pré-candidato à presidência da CBF durante o primeiro afastamento de Ednaldo Rodrigues, atuou nos bastidores para viabilizar o nome de Xaud e, segundo apuração, deve ocupar o cargo de CEO da entidade.
Assembleia está marcada para 25 de maio
A Assembleia Geral Eleitoral será realizada no sábado, 25 de maio, às 10h30, na sede da CBF, no Rio de Janeiro. A comissão organizadora autorizou a participação remota, uma vez que a data coincide com uma rodada do Campeonato Brasileiro.
Crise e disputas judiciais
A eleição ocorre em meio a uma crise institucional na CBF. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro analisa indícios de falsificação da assinatura do ex-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima no acordo que garantiu a permanência de Ednaldo Rodrigues na presidência da entidade. A suspeita foi levantada após uma perícia técnica ser anexada ao processo.
Nunes, conhecido como coronel Nunes, tem 86 anos e apresenta condições de saúde graves, incluindo um tumor cerebral e cardiopatia. Um laudo assinado pelo chefe do Departamento Médico da CBF, Jorge Pagura, atesta que ele sofre de déficit cognitivo desde uma cirurgia considerada agressiva realizada em 2023.
Além disso, o processo revela questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse envolvendo o ministro Gilmar Mendes. O magistrado, relator do processo por sorteio no STF, é fundador do IDP, que mantém relação comercial com a CBF Academy. A conexão é mencionada tanto em pedidos de afastamento quanto em requerimentos para que Ednaldo compareça ao Congresso Nacional.
Em nota oficial divulgada em 6 de maio, a CBF contestou as acusações. “A CBF enfatiza que todos os atos relacionados ao acordo mencionado foram conduzidos dentro da legalidade e com a participação de representantes devidamente legitimados. O processo foi legítimo e tem acordo homologado, estando pendente de um pedido de vista”, declarou a entidade.
Bastidores e denúncias
Reportagem da revista piauí indicou possível interferência política na primeira destituição de Ednaldo, em 2023. Segundo a publicação, o desembargador Luiz Zveiter, pai de Flávio Zveiter, atuou contra Ednaldo nos bastidores. A matéria também menciona que o ministro Gilmar Mendes foi alvo de críticas após denúncias de má gestão e gastos excessivos na confederação. Parlamentares chegaram a ameaçar a instalação de CPIs para investigar a CBF, o que teria pressionado o STF.
Durante esse período, Ednaldo também foi denunciado três vezes à Comissão de Ética da entidade, sob acusações de assédio, gestão temerária e fraude na formalização do acordo judicial.
A eleição de Samir Xaud, portanto, ocorre em um ambiente de forte disputa política e jurídica, que deverá influenciar os rumos da entidade nos próximos anos.