Com apoio massivo das federações, médico assume entidade até 2029
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) elegeu neste domingo (25) seu novo presidente. O médico Samir Xaud, de 41 anos, dirigente da Federação Roraimense de Futebol (FRF), foi escolhido com 103 votos entre os 146 eleitores aptos, em votação realizada na sede da entidade, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ele assume o comando da CBF para o mandato entre 2025 e 2029, sucedendo Ednaldo Rodrigues, afastado por decisão judicial.
Xaud foi candidato único, consolidado como nome de consenso entre 25 das 27 federações estaduais — com exceção de São Paulo e Mato Grosso — e apoiado por dez clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro: Botafogo, Palmeiras, Vasco, Grêmio, Amazonas, CRB, Criciúma, Paysandu, Remo e Volta Redonda.
Voto federativo e chapa única
A ampla maioria das federações estaduais assegurou a eleição de Xaud, uma vez que seus votos têm peso três, enquanto os clubes da Série A detêm peso dois e os da Série B, peso um. A desproporção inviabilizou outras candidaturas, como a do presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, que não conseguiu reunir o apoio necessário.
A eleição também definiu os oito vice-presidentes que comporão a diretoria da CBF. Entre os eleitos, estão Fernando Sarney, que atuava como interventor desde o afastamento de Ednaldo, e Gustavo Dias Henrique. A nova composição inclui ainda Michelle Ramalho Cardoso, presidente da Federação Paraibana, que se torna a primeira mulher a ocupar a vice-presidência da entidade.
Completam a lista: Flavio Zveiter, Ricardo Gluck Paul, José Vanildo, Ednailson Rozenha e Rubens Angelotti.
Crise e reviravoltas na gestão Ednaldo Rodrigues
A eleição de Xaud ocorre após meses de instabilidade na cúpula da CBF. Em dezembro de 2023, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) anulou a eleição de 2022 que havia reconduzido Ednaldo Rodrigues à presidência. A decisão judicial apontou irregularidades no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a entidade e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que buscava regularizar processos eleitorais anteriores. O TJ-RJ entendeu que o MP não tinha legitimidade para intervir nos assuntos internos de uma entidade privada.
Ednaldo recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), que, por decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, suspendeu os efeitos da anulação em janeiro de 2024. O ministro argumentou que a destituição poderia gerar sanções da Fifa, que não admite interferência judicial nas federações nacionais, o que ameaçaria a participação do Brasil em competições como os Jogos Olímpicos de Paris-2024.
Movimentações políticas e nova destituição
Apesar da liminar do STF, o apoio político a Ednaldo começou a se desgastar. A articulação do ex-jogador Ronaldo para lançar uma chapa nas eleições inicialmente previstas para 2026 acendeu um alerta. Sem conseguir apoio suficiente das federações, Ronaldo recuou, e Ednaldo se aproveitou do momento para antecipar o pleito para março deste ano, conforme brecha estatutária, sendo reeleito por aclamação com apoio de 67 eleitores.
A manobra, contudo, sofreu novo revés. Em maio, surgiram indícios de irregularidade na antecipação das eleições — uma das assinaturas que respaldaram a convocação não teria validade legal. No dia 15, o desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, do TJ-RJ, determinou novamente o afastamento de Ednaldo da presidência. O vice Fernando Sarney foi designado como interventor e, no dia seguinte, convocou nova eleição para este domingo.
Consolidação relâmpago de Xaud
Em menos de dois dias, Samir Xaud articulou sua candidatura como nome de unidade entre as federações do Norte e Nordeste, angariando rapidamente o apoio necessário para inviabilizar a inscrição de outras chapas. A eleição sacramentou seu nome como novo presidente da CBF, encerrando uma das fases mais turbulentas da entidade em sua história recente.