Estados Unidos, maiores financiadores da saúde mundial, doaram US$ 15,8 bilhões em 2022
A retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciada nesta segunda-feira (20) pelo então presidente Donald Trump, gera preocupação sobre a capacidade da agência da ONU de lidar com emergências de saúde e combater doenças globais sem o apoio de seu maior financiador.
O impacto do maior doador global
Os EUA são responsáveis por cerca de 18% do financiamento total da OMS, contribuindo significativamente para o orçamento bienal de US$ 6,8 bilhões da agência para 2024-2025. Além disso, o país financiou, nesse período, 75% do programa da OMS voltado para o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, bem como mais da metade das contribuições destinadas ao combate à tuberculose.
De acordo com a plataforma Donor Tracker, que monitora investimentos globais em saúde, os EUA destinaram US$ 15,8 bilhões à saúde mundial em 2022, consolidando-se como o maior doador nessa área.
Ameaça ao combate ao HIV e à saúde global
Programas de combate ao HIV são particularmente vulneráveis à saída americana. Parte significativa do financiamento vem do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da Aids (PEPFAR), cuja autorização foi renovada em 2024 por apenas um ano devido a alegadas controvérsias sobre subsídios. Com a expiração prevista para março, especialistas alertam para possíveis retrocessos no enfrentamento da epidemia.
A situação também afeta outros órgãos e programas de saúde global financiados pelos EUA, como o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária. A continuidade dessas iniciativas está ameaçada pela lacuna deixada pelo principal doador.
Vacinas e respostas a emergências
Apesar das incertezas, durante administrações anteriores, os EUA mantiveram seu apoio ao grupo global de vacinas, responsável por campanhas contra doenças infecciosas em regiões de risco. Entretanto, a nomeação de figuras céticas em relação à vacinação, como Robert F. Kennedy Jr., para cargos estratégicos, gera preocupações sobre possíveis cortes em contribuições futuras.
Durante emergências globais, como a pandemia de Covid-19, os EUA também desempenharam papel de liderança ao criar a “Operação Warp Speed”, que impulsionou o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde.
Consequências políticas e operacionais
Com a retirada, Trump também anunciou a realocação de funcionários americanos destacados em Genebra, sede da OMS. Essa decisão pode enfraquecer a colaboração entre o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA e a OMS, que juntos monitoram surtos e estabelecem parâmetros de segurança para medicamentos.
Trump também expressou ceticismo em relação às negociações de um tratado pós-Covid, lideradas pela OMS, que buscam fortalecer a resposta global a futuras pandemias. Aliados do presidente, como o bilionário Elon Musk, declararam que nações não deveriam “ceder autoridade” à organização. Enquanto isso, os EUA suspenderam sua participação nas negociações.
Abordagem controversa para a saúde reprodutiva
A retirada também reflete a postura de Trump em relação à saúde reprodutiva. Durante seu mandato, ele reinstaurou a “Política da Cidade do México”, que impede ONGs estrangeiras de usar fundos americanos para oferecer serviços ou aconselhamento sobre aborto. A medida foi ampliada para afetar instituições que financiam grupos envolvidos na temática, e o UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) também teve seu apoio cortado.
Perspectivas futuras
A retirada dos Estados Unidos da OMS marca um período de incertezas para a saúde global. O impacto dessa decisão não se limita à saúde financeira da organização, mas também à capacidade de resposta a crises sanitárias e ao desenvolvimento de políticas globais de saúde. A cooperação internacional e o engajamento de outros doadores serão cruciais para minimizar os efeitos desse movimento.