Ataque
Bombardeios atingem edifícios residenciais em Dobropillia e outras regiões; Zelensky acusa Putin de buscar avanço territorial, enquanto União Europeia alerta para falta de interesse de Moscou na paz.
No dia mais violento da guerra nos últimos oito meses, a Rússia realizou ataques com mísseis balísticos contra alvos na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, e em outras partes do país. A cidade de Dobropillia, localizada a 30 km da linha de frente, foi uma das mais afetadas, com bombardeios que atingiram nove edifícios residenciais e um centro comercial, deixando pelo menos 11 mortos e 50 feridos, entre eles sete crianças, segundo autoridades locais. Outras 14 mortes foram registradas em diferentes pontos do território ucraniano, incluindo as cidades de Odessa, no sul, e Kharkiv, no leste.
Os ataques ocorreram após o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump ameaçar a Rússia com sanções financeiras em resposta à intensificação dos bombardeios. Paralelamente, o Ministério da Defesa russo anunciou a retomada do controle sobre as aldeias de Viktorovka, Nikolaevka e Staraia Sorochina, situadas na região de Kursk, próxima à fronteira com a Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou o ataque a Dobropillia como “um dos mais brutais” já realizados e afirmou que a ação foi meticulosamente planejada para maximizar os danos. “Mísseis e drones Shahed alvejaram a parte central da cidade. Nove prédios residenciais, um shopping center e lojas foram atingidos”, declarou. “O segundo ataque veio quando os socorristas trabalhavam.”
Zelensky acusou a Rússia de “não buscar o fim da guerra, mas sim a destruição e a captura de mais territórios, enquanto houver permissividade internacional”. O premiê da Polônia, Donald Tusk, também criticou a postura russa, afirmando que “apaziguar bárbaros resulta em mais bombas, mais agressão e mais vítimas”. Já a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, declarou que o presidente russo, Vladimir Putin, “não tem qualquer interesse na paz”.
Estratégia e impactos
Anton Suslov, especialista da Escola para Análise Política de Kiev, reforçou a tese de que Moscou busca a destruição e ocupação da Ucrânia. “A estratégia de Trump, ao pressionar Kiev para negociações sem impor questionamentos à Rússia, teve efeitos negativos”, disse ao jornal Correio.
Para Olexiy Haran, professor de política comparada na Universidade de Kyiv-Mohyla, Trump estaria incentivando uma rendição ucraniana. “Putin quer capturar nosso país. Trump fala em acordo de paz, mas não pressiona a Rússia por um cessar-fogo. Ao contrário, ele chantageia a Ucrânia ao cortar a ajuda militar dos EUA”, afirmou. Segundo Haran, o líder russo espera que Trump suspenda o fornecimento de dados de inteligência para Kiev.
Robert Orttung, professor de Assuntos Internacionais da Universidade George Washington, apontou que a postura de Trump beneficia Moscou. “O americano fez várias concessões à Rússia sem receber nada em troca. A instabilidade que ele gera favorece Putin no longo prazo”, avaliou.
Polêmica com presente controverso
Em um episódio polêmico, uma filial do partido Rússia Unida, liderado por Putin, causou repercussão negativa ao oferecer moedores de carne como presente para mães de soldados russos mortos na Ucrânia, em alusão ao Dia Internacional dos Direitos da Mulher. Fotos publicadas na rede social russa Vkontakte mostram representantes do partido na região de Murmansk posando ao lado das mulheres, algumas delas visivelmente constrangidas ao receberem o objeto. Usuários nas redes sociais descreveram a ação como “vergonhosa” e “inadequada”. Na Rússia, o termo “moedor de carne” é frequentemente usado para descrever o envio em massa de soldados ao front de batalha, independentemente das perdas resultantes.