Por Wilton Emiliano Pinto *
Há dias em que o barulho do mundo parece nos engolir. São vozes que se sobrepõem, preocupações que não cessam, cobranças que chegam de todos os lados. Vivemos conectados, informados, acelerados… e, ao mesmo tempo, cansados. No fundo, o coração pede algo simples, mas precioso: paz espiritual.
Mas como encontrá-la quando tudo ao redor insiste em correr tão depressa?
Com o tempo percebi que a paz não aparece de repente, nem como prêmio para quem fez tudo certo. Ela se constrói, pouco a pouco. Assim como uma planta precisa ser regada, a serenidade nasce de escolhas conscientes que alimentam o espírito.
O primeiro gesto é acalmar os pensamentos. Antes de qualquer oração ou meditação, é preciso abrir espaço no coração. A respiração profunda ajuda: cada inspiração traz vida, cada expiração leva embora pesos desnecessários. O presente se revela como o único tempo real — o ontem já passou, o amanhã ainda não existe.
Esse simples exercício é como abrir uma janela em um quarto abafado. O ar entra, a luz se espalha, e o coração encontra repouso.
Muitos acreditam que é necessário um cenário perfeito para encontrar paz: velas, música suave, um lugar silencioso. Tudo isso pode ajudar, mas descobri que o verdadeiro ambiente é interno. Quando a alma escolhe se recolher, até no meio da rotina agitada surge um espaço de serenidade.
Uma sala iluminada é bonita, mas nada supera a claridade que nasce de dentro.
Depois, vem a conexão com aquilo que nos transcende. Pode ser chamada de Deus, Universo, Luz ou Energia. O nome é detalhe; o essencial é sentir-se amparado. É como se uma voz sussurrasse: “Você não está sozinho”.
Nesse diálogo íntimo, a alma ganha forças — não para dominar os outros, mas para superar a si mesma.
A respiração consciente se transforma em ponte: inspira-se vida, expira-se ansiedade. Aos poucos, o coração se abre para a gratidão. Recordamos tudo o que há de bom: pessoas queridas, oportunidades recebidas, o sol que insiste em nascer todos os dias.
A gratidão é uma chave poderosa. Ela desarma a mente inquieta e nos lembra que a vida já nos oferece muito mais do que imaginamos.
Nesse estado, a imaginação se torna aliada. É possível imaginar-se envolto em luz — uma claridade suave que dissolve a escuridão interior.
Junto disso, pequenas frases tornam-se sementes:
“Eu sou paz.”
“Eu sou amor.”
“Eu sou harmonia.”
Não são fórmulas mágicas, mas lembranças de quem realmente somos.
E então, surge o silêncio interior. Não o vazio do som, mas a presença da serenidade. É nesse instante que percebemos: a paz nunca esteve ausente; apenas ficou encoberta pelas distrações.
Esse silêncio cura. Ele nos devolve a escuta, a calma no olhar, a profundidade no sentir.
Quando voltamos à rotina, os desafios continuam ali. Mas nós estamos diferentes. O mundo não mudou, quem mudou fomos nós.
A paz espiritual não é ausência de problemas; é a certeza de que, mesmo em meio às tempestades, existe dentro de nós um porto seguro.
Sempre que desejarmos, poderemos retornar a esse abrigo. Basta parar, respirar, agradecer e confiar.
Reflexão final: A paz espiritual não é distante, nem rara. É um hábito cultivado no dia a dia. Quanto mais a alimentamos, mais ela floresce em nós — e, sem perceber, começa a tocar também quem caminha ao nosso lado.

Em cada texto, Wilton Emiliano Pinto oferece não apenas lembranças, mas também reflexões sobre o viver e o sonhar.