Ataques recentes de Israel a instalações nucleares iranianas levantam temores de desastre radiológico com consequências devastadoras, segundo especialistas
Os recentes ataques de Israel contra instalações nucleares no Irã, iniciados na última sexta-feira (13), reacenderam preocupações globais sobre os riscos de um desastre radiológico. A possibilidade de a usina nuclear de Bushehr, a única do Irã, ser danificada pelos bombardeios levanta questões alarmantes: o que poderia acontecer se uma dessas instalações fosse destruída?
Segundo a ICAN (Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares), uma coalizão de organizações não governamentais presente em cem países, as consequências poderiam ser devastadoras. No Irã, os bombardeios israelenses já atingiram instalações como Natanz, considerada o coração do programa nuclear iraniano, e fábricas de centrífugas em Teerã e Karaj, conforme relatado pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
O diretor da AIEA, Rafael Grossi, alertou que “atacar instalações como Fordo ou Isfahan seria extremamente perigoso” devido à grande quantidade de material nuclear armazenado, o que poderia causar contaminação radiológica em larga escala.
Riscos e vulnerabilidades de instalações nucleares
De acordo com a ICAN, o impacto de um ataque a uma usina nuclear depende de vários fatores, como o alvo (reator nuclear ou piscina de combustível irradiado), o tamanho da usina e sua idade. A maioria dos reatores nucleares não é projetada para resistir a eventos extremos, como bombardeios aéreos ou ataques com mísseis. Um ataque poderia romper as estruturas de contenção, geralmente construídas com concreto e aço, e provocar o derretimento do núcleo do reator.
As piscinas de combustível irradiado, onde barras de combustível usadas são armazenadas, são consideradas ainda mais vulneráveis. Essas áreas, muitas vezes sem a mesma proteção robusta dos reatores, se danificadas, podem liberar grandes quantidades de Césio-137, um material altamente radioativo.
A ICAN alerta que incêndios nessas piscinas poderiam liberar muito mais Césio-137 do que acidentes em reatores, como os de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, e em Fukushima, no Japão, em 2011. Esses desastres forçaram a evacuação de mais de 100 mil e 160 mil pessoas, respectivamente.
O Césio-137 é extremamente perigoso, podendo causar queimaduras, doença aguda por radiação e até a morte. Além disso, contamina água e alimentos, aumentando o risco de câncer e outros problemas de saúde a longo prazo. Em um cenário extremo, como o uso de uma arma nuclear contra uma usina, a ICAN estima que 100% do Césio-137 presente seria liberado, tornando cerca de 2.000 quilômetros quadrados inabitáveis para cada milhão de curies liberado.
O pior cenário: um ataque com arma nuclear
Se uma arma nuclear, mesmo de pequena potência (como 10 kilotons), fosse utilizada contra uma usina, os danos seriam catastróficos, conforme a ICAN. A explosão e o calor destruiriam o reator e as estruturas de contenção, fragmentando e vaporizando componentes radioativos.
Partículas de Césio-137 seriam lançadas na atmosfera, carregadas pelo vento e depositadas em solo, água e superfícies, emitindo radiação gama que poderia causar danos graves à saúde de populações expostas. A ICAN enfatiza que a combinação de um ataque nuclear com a destruição de uma usina poderia liberar dezenas de milhões de curies de Césio-137, tornando vastas áreas inabitáveis por décadas.
Além disso, outros materiais radioativos, como Iodo-131, que causa câncer de tireoide, e Polônio-210, altamente tóxico, poderiam se espalhar, como ocorreu no acidente de Windscale, no Reino Unido, em 1957.