Presidente americano reage a novas restrições da China sobre exportação de minerais críticos e ameaça cancelar encontro com Xi Jinping
Nova escalada entre as maiores economias do mundo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (10) que aplicará uma tarifa de 100% sobre todos os produtos importados da China a partir de 1º de novembro. A medida é uma resposta direta às restrições impostas por Pequim nesta semana sobre a exportação de minerais críticos — especialmente as terras raras, essenciais para setores como o de veículos elétricos e o de defesa.
Em publicação na rede Truth Social, Trump afirmou que as novas tarifas serão “adicionais” às já existentes sobre produtos chineses, que em muitos casos ultrapassam dois dígitos. O republicano também declarou que os Estados Unidos vão impor controles de exportação sobre softwares estratégicos.
O anúncio surge após Trump ameaçar, pela manhã, cancelar uma reunião com o líder chinês Xi Jinping, prevista para ocorrer em duas semanas, na Coreia do Sul. O presidente classificou as restrições chinesas às exportações de terras raras como “sinistras e hostis”, acrescentando que “não há razão” para manter o encontro.
Impacto imediato nos mercados
A notícia provocou forte reação nos mercados financeiros. O índice S&P 500 registrou queda superior a 2%, refletindo a preocupação dos investidores com uma nova rodada da guerra comercial entre Washington e Pequim. As ações de tecnologia foram as mais afetadas: Nvidia caiu quase 5%, enquanto a Advanced Micro Devices recuou 8%.
Os minerais críticos, foco da disputa, são componentes essenciais para motores, semicondutores e equipamentos militares. Em abril, a China já havia limitado as exportações desses insumos em resposta às tarifas impostas por Trump, provocando escassez para fabricantes americanos.
Na ocasião, o governo dos EUA respondeu com suas próprias restrições sobre softwares e equipamentos usados em design de chips e motores aeronáuticos. As tarifas chegaram a 145%, praticamente interrompendo parte do comércio bilateral até que uma trégua parcial fosse alcançada meses depois.
Pequim amplia restrições e exige licenças para exportação
Na quinta-feira (9), a China voltou a apertar o cerco. O governo chinês anunciou novas exigências de licenciamento para empresas estrangeiras que exportam produtos contendo terras raras, ainda que em quantidades mínimas. A regra, que entrará em vigor em 1º de dezembro, inclui também controles sobre tecnologias usadas na extração e refino de minerais e na produção de baterias para carros elétricos.
Atualmente, a China é responsável por 70% da extração global de terras raras e por cerca de 90% do processamento químico desses minerais. O país também mantém planos de longo prazo para dominar indústrias estratégicas como siderurgia, robótica, biomedicina e construção naval.
Investigações e novos atritos com empresas americanas
Pequim anunciou ainda uma investigação antimonopólio contra a fabricante de chips americana Qualcomm e novas taxas portuárias sobre navios dos Estados Unidos. As medidas ampliaram a tensão com o setor de tecnologia americano, especialmente com empresas como Nvidia e Apple, que dependem fortemente da cadeia de suprimentos chinesa.
Analistas avaliam que as restrições chinesas podem ser uma tentativa de aumentar a influência de Pequim antes do encontro entre Trump e Xi. No entanto, a resposta agressiva de Washington pode ter o efeito oposto. “As ações da China são uma declaração econômica de guerra”, afirmou o deputado John Moolenaar, presidente do Comitê Seleto da Câmara sobre a China, chamando a medida de “um tapa na cara do presidente Trump”.
Especialistas alertam para deterioração da relação bilateral
Wendy Cutler, vice-presidente do Asia Society Policy Institute, avaliou que os últimos acontecimentos evidenciam “quão frágil é a distensão emergente entre os dois países”. Segundo ela, “Pequim acredita ter vantagem na relação bilateral”, mas as ameaças de Trump mostram que “dois podem jogar este jogo”.
Trump afirmou em suas redes sociais que as restrições “surgiram do nada”, dizendo que, embora a China detenha o monopólio das terras raras, os Estados Unidos possuem “monopólios mais fortes e de maior alcance”. “Eu simplesmente nunca precisei usá-los — até agora”, escreveu.
A Casa Branca confirmou que o presidente ainda planeja viajar à Ásia no fim do mês, incluindo uma possível reunião com Xi Jinping à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na Coreia do Sul.
Agricultura e soja entram na disputa
Além da tecnologia, o setor agrícola também sente os reflexos da crise. Produtores americanos pediram que Trump pressione Pequim a eliminar as tarifas retaliatórias sobre a soja dos Estados Unidos, que prejudicam as exportações.
“Guerras comerciais são ruins para todos”, afirmou Caleb Ragland, produtor de soja do Kentucky e presidente da Associação Americana de Soja. Segundo ele, o cancelamento do encontro entre Trump e Xi “é profundamente decepcionante” e agrava a crise financeira enfrentada pelos agricultores.