ONU e ONGs criticam estratégia de Tel Aviv e alertam para riscos aos civis; Reino Unido propõe evacuação de crianças feridas
Corredores terrestres e lançamentos aéreos
O governo de Israel anunciou neste sábado (26) a criação de corredores humanitários na Faixa de Gaza, com o objetivo de facilitar o transporte de suprimentos por parte das Nações Unidas. A medida surge em meio a um cenário alarmante de insegurança alimentar no território palestino, onde o avanço da fome já afeta milhares de civis, sobretudo crianças.
Paralelamente, o Exército israelense informou que retomou os lançamentos aéreos de ajuda humanitária – prática que já havia sido alvo de duras críticas por parte de agências internacionais. O método, considerado ineficiente e perigoso, volta a ser utilizado com o envio de sete paletes contendo farinha, açúcar e alimentos enlatados, fornecidos por entidades internacionais. Fontes palestinas confirmaram à agência Reuters que parte dessa ajuda foi lançada no norte de Gaza.
Segundo as Forças de Defesa de Israel, as medidas visam mitigar a crise humanitária e “desmentir alegações de que haveria intenção deliberada de provocar fome” na região.
Pressão internacional e iniciativa britânica
A decisão israelense ocorre poucos dias após mais de cem organizações denunciarem um surto generalizado de fome na Faixa de Gaza, com ênfase no número crescente de crianças em risco de morte. Para conter os danos, o governo de Israel anunciou pausas táticas em operações militares em áreas densamente povoadas, a fim de permitir a entrada de ajuda.
No mesmo dia, o Reino Unido declarou que está colaborando com a Jordânia para também lançar suprimentos por via aérea. Além disso, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, comunicou aos líderes da França e da Alemanha a intenção de liderar um plano internacional de evacuação de crianças feridas ou gravemente doentes.
“Estaremos trabalhando em estreita coordenação nos próximos dias para definir os próximos passos”, afirmou o gabinete do chanceler alemão, Friedrich Merz, após o diálogo com Londres e Paris.
ONU condena lançamentos aéreos
O comissário da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini, voltou a condenar os lançamentos aéreos de alimentos, classificando-os como “uma distração e uma cortina de fumaça”. Para ele, a solução está no desbloqueio das fronteiras terrestres e na garantia de acesso seguro à ajuda.
“Uma fome provocada por decisões humanas só pode ser enfrentada com vontade política. Lançamentos aéreos são caros, perigosos e ineficazes. Já causaram mortes de civis famintos no passado”, alertou.
Em 2024, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, França e outros países lançaram ajuda aérea sobre Gaza, mas quedas descontroladas das caixas provocaram ferimentos e mortes.
Restrição de acesso e mortes por desnutrição
Israel enfrentava forte pressão internacional por manter, desde 2 de março, um bloqueio quase total à entrada de insumos no território palestino. Após o fracasso nas negociações de cessar-fogo com o Hamas, a entrada de suprimentos foi retomada pontualmente em maio, sob forte controle militar.
Apesar das alegações israelenses de que não impõe limite à quantidade de caminhões com ajuda, agências humanitárias acusam o país de criar obstáculos logísticos e burocráticos, inviabilizando a distribuição eficiente. ONGs relatam que até seus próprios funcionários sofrem com a falta de alimentos, e que cada vez mais crianças morrem de fome.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, ao menos 85 crianças e 42 adultos já morreram por causas relacionadas à desnutrição. Entre eles, a filha de Ahmed Abu Halib, que faleceu com peso inferior ao registrado no nascimento. “Ela precisava de uma fórmula infantil especial que simplesmente não existe em Gaza”, lamentou o pai. A mãe, Esraa, também desnutrida, contou que só conseguiu amamentar a filha nas primeiras seis semanas de vida.
“Com a morte da minha filha, muitos outros virão. São apenas nomes numa lista que ninguém lê. Somos apenas números”, desabafou Esraa.
Violência durante distribuição de comida
As denúncias sobre o modelo de distribuição adotado por Israel também se intensificaram após mais um episódio sangrento. Neste sábado, pelo menos 40 pessoas morreram enquanto aguardavam comida nas proximidades da Cidade de Gaza. Testemunhas afirmam que 16 dessas vítimas foram baleadas por soldados israelenses perto de um ponto de entrega em Zikim, próximo a um posto militar.
Conforme autoridades de saúde locais, mais de mil pessoas morreram desde o início do atual regime de distribuição, coordenado pela Fundação Humanitária de Gaza – criada com apoio de Israel e dos Estados Unidos.
( Com DW )