O presidente do Panamá, José Raul Mulino, divulgou uma carta nesta segunda-feira (20), logo após a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, rejeitando as declarações feitas pelo republicano.
Durante seu discurso de posse, Trump afirmou que os EUA “vão retomar o controle do Canal do Panamá”, alegando preocupações com taxas e a gestão da hidrovia.
Mulino respondeu enfaticamente, afirmando que “nenhuma outra nação no mundo vai interferir na nossa administração”.
“O Canal é e continuará a pertencer ao Panamá, e sua administração seguirá sob o controle panamenho, garantindo sua neutralidade permanente. Não há presença de nenhuma nação no mundo que interfira na nossa administração”, afirmou o presidente panamenho.
Ele também destacou que o controle do canal é um marco conquistado pelo povo panamenho. “O Canal não foi concessão de ninguém. Foi o resultado de lutas geracionais que culminaram em 1999, como resultado do tratado Torrijos-Carter. Desde então, há 25 anos, estamos administrando e expandindo a hidrovia de maneira responsável para atender ao comércio mundial, incluindo os Estados Unidos”, ressaltou.
Mulino afirmou ainda que o Panamá utilizará todos os meios previstos pelo Direito Internacional para proteger a soberania do canal. “Contamos com o direito que nos protege, a base jurídica do Tratado, a dignidade que nos distingue e a força que o Direito Internacional nos dá como forma ideal de gerir as relações entre países e, sobretudo, entre países aliados e amigos, como demonstrado pela história e por nossas ações em relação aos Estados Unidos.”
Declarações de Trump
Durante seu discurso de posse, Trump criticou as condições atuais de operação do Canal do Panamá, afirmando que os EUA investiram grandes somas na construção da hidrovia e sofreram perdas significativas.
“Os Estados Unidos gastaram mais dinheiro do que nunca em um projeto antes e perderam 38 mil vidas na construção do Canal do Panamá. Os navios americanos estão severamente sobrecarregados e não são tratados de forma justa. E isso inclui a Marinha dos Estados Unidos. Acima de tudo, a China está operando o Canal do Panamá. Não demos para a China. Demos-o ao Panamá e vamos recuperá-lo”, disse Trump.
Essas declarações reforçam o posicionamento do presidente norte-americano desde dezembro de 2024, quando, ainda como presidente eleito, publicou mensagens na rede Truth Social. Ele criticou as taxas cobradas pelo Panamá, que considerou “ridículas”, e ameaçou exigir o controle da hidrovia caso suas demandas não fossem atendidas.
“As taxas cobradas pelo Panamá são ridículas, especialmente considerando a extraordinária generosidade que os EUA demonstraram ao país. Se os princípios, tanto morais quanto legais, deste gesto magnânimo de doação não forem seguidos, então exigiremos que o Canal do Panamá seja devolvido a nós, integralmente e sem questionamentos”, escreveu Trump na ocasião.
Ele também fez referência à influência chinesa na região, mencionando que uma subsidiária da CK Hutchison Holdings, sediada em Hong Kong, administra dois portos estratégicos localizados nas entradas do Caribe e do Pacífico.
Resposta panamenha
Ainda em dezembro, Mulino já havia se posicionado contra as declarações de Trump, reforçando que as taxas cobradas não são arbitrárias. “Cada metro quadrado do Canal do Panamá e da área ao redor pertence ao Panamá e continuará pertencendo a ele. Nossa soberania e independência não são negociáveis”, afirmou em uma declaração publicada na rede social X.
O controle do Canal do Panamá foi transferido integralmente ao governo panamenho em 1999, após a assinatura dos tratados Torrijos-Carter em 1977, que estabeleceram um período de transição com administração conjunta entre os dois países.
A hidrovia, que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, é responsável por 2,5% do comércio marítimo global. Até 14 mil navios transitam anualmente pelo canal, que é fundamental para as importações e exportações dos Estados Unidos, incluindo automóveis, produtos comerciais e gás natural liquefeito.
Da Redação/Click News/G1