Setor agrícola tem alta de 12,2% e lidera avanço da economia; indústria recua e juros altos devem frear próximos resultados
A economia brasileira iniciou 2025 com um crescimento de 1,4% no primeiro trimestre, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço foi impulsionado principalmente pelo setor agropecuário, que registrou expansão expressiva de 12,2% no período, refletindo os efeitos de uma supersafra. O resultado trimestral totalizou R$ 3 trilhões, em linha com a mediana das projeções de mercado, que indicavam crescimento de 1,5%, conforme levantamento do jornal Valor Econômico.
Na comparação acumulada de quatro trimestres, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou alta de 3,5%, sinalizando um desempenho acima das expectativas iniciais para o início do ano.
Clima favorável impulsiona agropecuária
Com boas condições climáticas e volume de chuvas elevado desde outubro de 2024, a performance do setor agrícola já era esperada. No último trimestre do ano passado, a agropecuária havia registrado retração de 4,4%, o que contribuiu para uma base de comparação favorável.
“A agropecuária está sendo favorecida pelas condições climáticas e pela baixa base de comparação do ano passado. É esperada uma safra recorde de soja, nosso principal produto agrícola”, afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Apesar do desempenho expressivo, o resultado ainda ficou abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2023, quando o setor teve crescimento de 13,8% e foi o principal motor da economia ao longo daquele ano.
Serviços crescem moderadamente; peso no PIB sustenta avanço
O setor de serviços, que responde por cerca de 70% do PIB brasileiro, teve alta modesta de 0,3% nos três primeiros meses de 2025. Ainda assim, devido à sua relevância na composição da atividade econômica, mesmo uma expansão tímida contribui para o resultado geral positivo.
Indústria sofre com política monetária restritiva
A indústria, por sua vez, apresentou leve retração de 0,1%. O IBGE destaca que os segmentos de transformação e construção foram afetados pelo atual ciclo de juros elevados, com a taxa Selic mantida em 14,75%. A política monetária restritiva tem reduzido o crédito disponível e impactado o apetite por consumo e investimentos em setores mais sensíveis ao custo do financiamento.
Consumo das famílias reage com mercado de trabalho aquecido
Apesar do ambiente de juros altos, o consumo das famílias cresceu 1% no trimestre, revertendo a queda de 0,9% observada nos últimos três meses de 2024. Analistas atribuem essa recuperação à manutenção de um mercado de trabalho aquecido e ao aumento da massa de rendimentos, que alcançou nível recorde em abril.
A taxa de desemprego caiu para 6,6%, a menor já registrada para o mês na série histórica. O desempenho do emprego tem sustentado o poder de compra e impulsionado o consumo, que deve ser ainda mais estimulado por medidas como o crédito consignado para trabalhadores do setor privado, implementado no fim de março.
Investimentos sobem e poupança ganha fôlego
Os investimentos, considerados um termômetro da confiança na economia, cresceram 3,1% no primeiro trimestre — o melhor resultado em um ano. No trimestre anterior, o avanço havia sido de 0,7%.
A taxa de investimento chegou a 17,8% do PIB, superando os 16,7% do mesmo período de 2024. Já a taxa de poupança subiu para 16,3%, ante 15,5% registrados no primeiro trimestre do ano passado.
Setor externo tem desempenho misto
No comércio exterior, as exportações cresceram 2,9% na comparação com o trimestre anterior, enquanto as importações tiveram alta de 5,9%. O resultado reflete a recuperação da demanda interna, mas também aponta para maior dependência de insumos externos.
Perspectivas para os próximos meses
Na comparação anual, o PIB do primeiro trimestre de 2025 cresceu 2,9%, marcando o 17º resultado positivo consecutivo nessa base de comparação. O desempenho acima do previsto levou economistas a revisarem para cima suas projeções para o ano, abandonando a expectativa inicial de desaceleração no início do ciclo.
Contudo, analistas mantêm cautela em relação aos próximos trimestres. A tendência é de que os efeitos defasados da política monetária restritiva passem a ter impacto mais significativo sobre o nível de atividade, o que pode moderar o ritmo de crescimento da economia brasileira até o fim de 2025.