Operação Sisamnes chega à sétima fase e apura ligação entre assassinato de advogado em Cuiabá e suposto esquema de corrupção no Judiciário
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (28) a sétima fase da Operação Sisamnes, que apura denúncias de vazamento e comercialização de decisões judiciais em gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A nova etapa da investigação tem como foco esclarecer os responsáveis pela morte do advogado Roberto Zampieri, executado a tiros em 2023, na cidade de Cuiabá (MT).
Execução em Cuiabá leva a descoberta de rede criminosa
Zampieri foi morto com dez disparos enquanto estava dentro de seu carro, estacionado em frente ao próprio escritório. A análise do conteúdo de seu celular revelou diálogos com empresários, desembargadores e o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como intermediador de negociações com integrantes do STJ.
Com o avanço das investigações, a PF identificou a existência de uma organização criminosa estruturada, denominada “Comando C4”, que atuaria na prática de crimes como espionagem e assassinatos por encomenda. O grupo, formado por militares — ativos e da reserva — além de civis, seria responsável por ações coordenadas de repressão e eliminação de alvos considerados “inimigos”. A sigla “C4” remeteria, segundo os investigadores, a “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos”.
Mandados judiciais e novos suspeitos de participação no crime
Por determinação do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva, além de medidas como monitoramento eletrônico, proibição de contato entre investigados, recolhimento de passaportes e restrição de saída do país. As ordens foram cumpridas nos estados de Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.
Entre os detidos está Anibal Manoel Laurindo, apontado como possível mandante do assassinato. Segundo a Polícia Civil de Mato Grosso, ele teria interesse em uma disputa fundiária na Justiça estadual. A defesa de Laurindo informou que ainda analisa os autos e deve se pronunciar nos próximos dias.
Também foram alvos da operação o coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, suspeito de intermediar o crime — já custodiado anteriormente —, o pedreiro Antônio Gomes da Silva, suposto executor dos disparos, e o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa. As defesas de Silva e Barbosa ainda não se manifestaram.
Celular de advogado aponta para tráfico de influência no STJ
O assassinato de Zampieri foi o ponto de partida para apurações que revelaram, segundo a PF, indícios de um esquema envolvendo a venda de sentenças judiciais em pelo menos quatro gabinetes de ministros do STJ. As mensagens trocadas pelo advogado sugerem tráfico de influência e corrupção em instâncias superiores do Judiciário.
A gravidade das revelações levou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a determinar o afastamento de dois desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, também citados nas investigações.