Alimentação, álcool, cigarro e sedentarismo estão entre os fatores que mais pressionam o pâncreas e favorecem doenças graves
O pâncreas, localizado atrás do estômago, é um órgão pequeno, mas essencial para o funcionamento do corpo. Ele produz enzimas que ajudam na digestão e hormônios como insulina e glucagon, fundamentais para o controle da glicemia. Quando submetido a agressões constantes, pode desenvolver inflamações, diabetes e até câncer — condições que muitas vezes evoluem silenciosamente.
O impacto do álcool no pâncreas
O consumo frequente e elevado de álcool é uma das principais causas de pancreatite. Crises agudas costumam provocar dor intensa, náuseas e vômitos, exigindo atendimento hospitalar. Episódios repetidos tendem a avançar para a forma crônica, marcada por danos permanentes, má absorção de nutrientes e maior risco de câncer.
O álcool pode ativar enzimas digestivas antes que elas cheguem ao intestino, fazendo com que ataquem o próprio tecido pancreático. Também deixa o suco pancreático mais espesso, favorecendo a formação de tampões e cálculos que bloqueiam os ductos. Além disso, o metabolismo do álcool gera substâncias tóxicas, como o acetaldeído, que irritam e lesionam o órgão. Diretrizes sugerem limitar o consumo semanal a 14 unidades, distribuídas ao longo de vários dias.
Fumo e risco aumentado de doenças
O tabagismo eleva significativamente a probabilidade de pancreatite e câncer de pâncreas. Quanto maior a carga de cigarro, maior o risco. Abandonar o hábito reduz de forma progressiva as chances de adoecimento — após cerca de 15 anos sem fumar, o risco pode se aproximar do de um não fumante.
Estudos indicam que a nicotina provoca alterações bruscas de cálcio dentro das células pancreáticas, agravando inflamações. A fumaça do cigarro ainda carrega substâncias cancerígenas que danificam o DNA. Uma das primeiras mutações ligadas ao câncer de pâncreas envolve o gene Kras, presente em mais de 90% dos casos.
A influência da dieta
A alimentação exerce papel direto na saúde pancreática. O consumo excessivo de gorduras saturadas, carnes processadas e carboidratos refinados está associado a doenças do órgão.
A formação de cálculos biliares — uma das causas mais comuns de pancreatite aguda — está ligada ao excesso de colesterol na dieta. Essas pedras podem bloquear o ducto biliar e reter enzimas digestivas dentro do pâncreas, desencadeando inflamação. Níveis elevados de triglicerídeos também são perigosos: partículas de gordura podem obstruir pequenos vasos sanguíneos e liberar compostos que irritam o tecido pancreático.
Oscilações frequentes de glicose, provocadas pelo consumo de açúcares simples, aumentam a demanda por insulina e contribuem para resistência insulínica, além de ampliar o risco de câncer pancreático.
Obesidade e inflamação crônica
O excesso de peso está associado a pancreatite aguda, pancreatite crônica e câncer. A gordura pode infiltrar o órgão, reduzindo a presença de células saudáveis. Pessoas obesas também apresentam níveis maiores de moléculas pró-inflamatórias, que estimulam processos que favorecem tumores.
A obesidade ainda aumenta a incidência de cálculos biliares e prejudica a sensibilidade à insulina, criando um ambiente metabólico desfavorável ao pâncreas.
Sedentarismo e sobrecarga metabólica
A falta de atividade física intensifica a resistência à insulina, forçando o pâncreas a produzir mais do hormônio. Essa demanda contínua aumenta o desgaste do órgão e eleva o risco de diabetes e câncer.
Movimentar o corpo regularmente fortalece o sistema imunológico, melhora a resposta celular, reduz a obesidade e diminui as chances de desenvolver diabetes tipo 2. A recomendação geral é incluir exercícios de força duas vezes por semana e somar ao menos 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de exercícios intensos.
Sinais de alerta e prevenção
Doenças pancreáticas podem ser fatais, por isso a atenção aos sintomas é fundamental. Dor abdominal persistente, perda de peso inexplicada, icterícia, náuseas prolongadas, vômitos, fadiga crônica e fezes gordurosas são sinais que exigem avaliação médica imediata.
Boa parte dos fatores de risco pode ser modificada. Reduzir o consumo de álcool, abandonar o cigarro, adotar uma dieta rica em frutas, verduras e grãos integrais e praticar exercícios são atitudes que protegem o pâncreas. Pequenas mudanças — como trocar bebidas açucaradas por opções mais naturais ou incluir proteínas vegetais nas refeições — já aliviam a carga sobre o órgão.
Compreender como o pâncreas funciona e identificar precocemente alterações permite agir antes que danos maiores se instalem. Cuidar dele é essencial para manter o equilíbrio do corpo e a saúde a longo prazo.
( Com Dipa Kamdar – Professora sênior de Prática Farmacêutica na Universidade de Kingston).



