Ministério Público, Receita Federal e Polícia Militar cumprem mandados contra suspeita de lavagem de dinheiro envolvendo postos, motéis e franquias
Ação conjunta contra o crime organizado
O Ministério Público de São Paulo, a Receita Federal e a Polícia Militar deflagraram na manhã desta quinta-feira (25) uma operação para cumprir 25 mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O foco da investigação é a atuação da facção no setor de combustíveis e no mercado de jogos de azar.
A ofensiva é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, realizada em agosto, que já havia identificado o uso de postos de combustíveis, empreendimentos imobiliários, motéis e redes de franquias para ocultar patrimônio e lavar dinheiro.
Empresário e fintech sob investigação
Os mandados foram expedidos a pedido do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e têm como alvos o empresário Flávio Silvério Siqueira e a empresa BK Bank, apontada como instrumento para movimentação financeira irregular. As buscas ocorreram em São Paulo, Santo André, Barueri, Campos do Jordão, Osasco, Santos e Bertioga.
A operação mobilizou cerca de 200 agentes, entre promotores, policiais militares, auditores da Receita Federal e representantes da Secretaria da Fazenda paulista.
Em nota, o escritório Fernando José da Costa Advogados, que defende o BK Bank, afirmou que não houve cumprimento de mandados em endereços da instituição. A defesa alegou que o banco é regulado pelo Banco Central, não possui ligação com o crime organizado e vem colaborando com as autoridades.
Quebra de sigilo e novos indícios
A Justiça também autorizou a quebra de sigilo de aparelhos eletrônicos dos investigados, permitindo acesso a aplicativos de mensagens, contatos, mídias e arquivos em nuvem.
Segundo o Gaeco, a investigação avançou a partir da apreensão de máquinas de cartão de crédito em casas de jogos clandestinos no litoral paulista. As apurações levaram à identificação de Silvério como articulador do esquema, com uso da fintech BK Bank para lavagem de dinheiro.
Esquema bilionário de combustíveis adulterados
A Receita Federal apontou que parte dos lucros da facção tinha origem em fraudes no setor de combustíveis. Entre 2020 e 2024, ao menos 267 postos ainda ativos movimentaram mais de R$ 4,5 bilhões, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais — equivalente a 0,1% do volume registrado.
Também foram identificadas administradoras de postos que somaram R$ 540 milhões no mesmo período, além de 21 CNPJs ligados a uma única rede de franquias, com 98 estabelecimentos, que juntos movimentaram cerca de R$ 1 bilhão em quatro anos, mas emitiram apenas R$ 550 milhões em notas fiscais.
Motéis e restaurantes usados para lavar dinheiro
A investigação revelou ainda que mais de 60 motéis estavam em nome de “laranjas” e movimentaram R$ 450 milhões entre 2020 e 2024. Restaurantes vinculados a esses estabelecimentos também integravam o esquema, distribuindo lucros milionários acima do declarado em notas fiscais.
Com os recursos ilícitos, os suspeitos adquiriram imóveis de alto padrão, helicópteros, iates, terrenos avaliados em mais de R$ 20 milhões e veículos de luxo, como um Lamborghini Urus.
Conexão com postos e jogos de azar
Máquinas de cartão apreendidas em duas casas de apostas ilegais em Santos estavam registradas em nome de postos de gasolina e direcionavam valores para o BK Bank, repetindo a lógica já apontada na Operação Carbono Oculto.
Além disso, documentos obtidos após quebra de sigilo indicaram que empresas de Flávio Siqueira lucravam tanto com a adulteração de combustíveis quanto com a exploração de jogos de azar. Foram identificadas nove empresas do setor hoteleiro e três do setor financeiro envolvidas no esquema, todas registradas em nome de intermediários.
Postos de gasolina ligados ao grupo já haviam sido autuados anteriormente pela Agência Nacional do Petróleo por irregularidades. Um deles, o Posto de Serviços DJF, teria movimentado mais de R$ 1,5 milhão em combustíveis adulterados.