Temperaturas devem superar 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais nos próximos cinco anos; especialistas veem meta do Acordo de Paris como inalcançável
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou, nesta semana, que há 70% de probabilidade de o planeta superar, até 2029, o limite de 1,5 ºC de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais — patamar estabelecido como meta no Acordo de Paris de 2015.
Segundo dados do Serviço Meteorológico do Reino Unido, baseados em previsões de dez centros internacionais, a tendência é de que o aquecimento global continue avançando. Em 2024, o mundo registrou a primeira violação desse limite, que visa conter os impactos das mudanças climáticas provocadas pela queima de combustíveis fósseis.
“Acabamos de viver os dez anos mais quentes já registrados. Infelizmente, este relatório não apresenta indícios de que isso vá mudar”, afirmou Ko Barrett, secretária-geral adjunta da OMM. O relatório alerta que mesmo pequenas frações adicionais de aquecimento podem intensificar ondas de calor, secas, derretimento de calotas polares e episódios de precipitação extrema.
O climatologista Peter Thorne, da Universidade de Maynooth (Irlanda), avalia que o mundo está “perto de ultrapassar os 1,5 °C de forma permanente até o final da década de 2020 ou início da década de 2030”. Especialistas alertam que, se o aquecimento for mantido acima desse patamar, os danos aos ecossistemas podem ser irreversíveis.
Além disso, a OMM destacou uma inédita probabilidade “não nula” — de 1% — de que pelo menos um dos próximos cinco anos registre aquecimento acima de 2 ºC. “É a primeira vez que vemos isso em nossas previsões”, afirmou Adam Scaife, do Serviço Meteorológico do Reino Unido. “É um choque.”
Os efeitos já são visíveis: recentemente, a China registrou temperaturas superiores a 40 ºC, os Emirados Árabes Unidos atingiram quase 52 ºC e o Paquistão enfrentou ventos mortais após uma onda de calor. Friederike Otto, climatologista do Imperial College de Londres, ressaltou: “Já atingimos um nível perigoso de aquecimento global”, citando enchentes mortais e incêndios florestais em diversos países. Ela alertou: “Continuar dependendo de petróleo, gás e carvão em 2025 é uma absoluta loucura”.
As projeções também indicam maior incidência de chuvas no Sahel, norte da Europa, Alasca e Sibéria, além de uma nova temporada de secas na bacia amazônica. O Ártico, segundo a OMM, deverá aquecer 3,5 vezes mais que a média global, atingindo 2,4 ºC acima dos últimos 30 anos, com significativa perda de gelo marinho.
(Fonte: Deutsche Welle)