Por Wilton Emiliano Pinto *
Se pensarmos bem, nossa existência é uma improvável soma de vidas que vieram antes. Para que você ou eu estivéssemos aqui, um longo fio de tempo precisou ser tecido, geração após geração, por mãos que nunca apertamos, por vozes que nunca ouvimos, por rostos que nunca vimos, mas que, de alguma forma, ainda vivem em nós.
Nossos pais, avós, bisavós, tetravós… Cada um deles enfrentou o próprio tempo, amou, chorou, lutou e sobreviveu para que, um dia, pudéssemos abrir os olhos e respirar este mesmo ar. Alguns desses nomes se perderam na poeira da história, desvanecidos em velhos registros esquecidos, mas a essência deles nunca se apagou. Ela nos atravessa, silenciosa e indissolúvel, moldando a forma como sentimos, como sonhamos, como nos movemos pelo mundo.
No entanto, quantas vezes paramos para refletir sobre essa herança invisível? Somos feitos do tempo, e, paradoxalmente, nos comportamos como se ele nos pertencesse. Passamos pela vida presos a um tempo curto, aos nossos míseros 80 ou 90 anos, como se esse fosse o único pedaço da eternidade que nos coubesse. Como se nada antes de nós importasse e nada depois de nós fosse continuar. Mas a verdade é que somos muito mais do que esse instante passageiro.
Talvez seja hora de olharmos para trás com mais gratidão. Venerar nossos antepassados não é apenas lembrar deles em fotografias amareladas ou em nomes gravados em lápides frias. É reconhecer que cada gesto nosso carrega um pouco do que eles foram. O amor que sentimos por nossos filhos é o mesmo que nossos ancestrais sentiram pelos deles. O medo, a esperança, os sonhos—tudo isso já pulsou nos corações que nos precederam. E se hoje achamos que a vida passa depressa, talvez seja porque esquecemos que pertencemos a algo muito maior do que nós mesmos.
Há uma beleza imensurável em compreender que somos continuidade. Cada vez que rimos, que choramos, que cuidamos de quem amamos, estamos revivendo momentos que já foram vividos por aqueles que vieram antes de nós. Estamos perpetuando seus legados, mesmo sem perceber. E se um dia formos lembrados, que seja pelo respeito que tivemos por aqueles que nos antecederam. Pois, afinal, eles nunca partiram de verdade. Eles seguem vivos em cada traço nosso, em cada batida de nosso coração.
Talvez o tempo não nos pertença. Talvez sejamos nós que pertencemos a ele.
