Morte de Papa Francisco encerra pontificado histórico de reformas e humildade
O Vaticano confirmou, na manhã desta segunda-feira (21), a morte do Papa Francisco, aos 88 anos, às 7h35 (horário local). A causa exata do falecimento não foi informada. Entretanto, o pontífice havia passado semanas hospitalizado em estado crítico devido a uma infecção respiratória considerada grave.
Após receber alta, Francisco retomou uma agenda pública reduzida. Na véspera de sua morte, ele chegou a receber o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e abençoou os fiéis presentes na Praça de São Pedro durante a missa de Páscoa. Mesmo com algumas aparições ao longo da semana anterior, sua voz fraca e rouca demonstrava a fragilidade de seu estado de saúde.
Histórico de saúde do pontífice
Francisco havia sido internado com insuficiência respiratória aguda provocada por infecções virais e bacterianas. Durante os meses de inverno, ele enfrentou episódios recorrentes de bronquite.
Seu quadro clínico incluiu crise respiratória asmática, início de insuficiência renal leve e espasmo brônquico que o levou a inalar o próprio vômito após um acesso de tosse. Ele recebia oxigenoterapia de alto fluxo durante o dia e utilizava ventilação não invasiva à noite.
Procedimentos após a morte de um papa
A morte de um papa segue rituais definidos ao longo de séculos pela Igreja Católica. A confirmação do falecimento é feita pelo chefe do departamento de saúde do Vaticano e pelo camerlengo — atualmente o cardeal norte-americano Kevin Joseph Farrell, de 77 anos. Ele assume, interinamente, a administração da Santa Sé até a eleição de um novo pontífice.
O corpo é vestido com batina branca e trasladado para a capela privada do papa. Ali, é preparado para o funeral: colocado em um caixão de madeira forrado com zinco, vestido com trajes litúrgicos vermelhos, com a mitra e o pálio dispostos ao lado. O camerlengo elabora um documento autenticando a morte, que inclui o relatório médico, lacra os aposentos do papa — no caso de Francisco, o segundo andar da Casa Santa Marta — e destrói o anel do pescador com um martelo cerimonial, para evitar seu uso indevido.
Funeral mais simples, conforme desejo do papa
Fiel ao estilo sóbrio que marcou seu pontificado, Francisco estabeleceu em 2024 alterações nos ritos fúnebres papais, eliminando elementos considerados excessivamente cerimoniais. Diferente de predecessores como João Paulo II, cujo corpo foi exposto no Palácio Apostólico, Francisco determinou que o velório ocorra diretamente na Basílica de São Pedro, com o corpo dentro do caixão e sem pedestal elevado.
A decisão, segundo o historiador Agostino Paravicini Bagliani, expressa a preferência de Francisco por “humildade em vez de glorificação”.
A procissão que levará o corpo à basílica será conduzida pelo camerlengo, em data e horário definidos pelo Colégio dos Cardeais. O funeral deve ocorrer entre quatro e seis dias após a morte, com cerimônias religiosas previstas por nove dias em diferentes igrejas de Roma.
Diferentemente de papas anteriores, que eram sepultados em três caixões (de cipreste, zinco e olmo), Francisco será enterrado em um único caixão de madeira forrado de zinco, conforme sua vontade. Dentro dele, além do corpo, serão depositados uma bolsa com moedas cunhadas durante o pontificado e um rogito — documento que resume os principais marcos de sua vida e será lido antes do sepultamento.
Outro desejo manifestado pelo papa foi o de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, uma das mais antigas igrejas de Roma e local que ele frequentemente visitava para orações diante do ícone da Virgem Maria.

Como será escolhido o sucessor
Com a morte do papa, inicia-se o período conhecido como sede vacante, durante o qual o Colégio dos Cardeais assume o comando interino da Igreja, sem poderes para tomar decisões relevantes.
Entre 15 e 20 dias após a morte de Francisco, o decano do Colégio, cardeal Giovanni Battista Re, de 91 anos, convocará os cardeais com menos de 80 anos para o conclave — processo secreto de eleição do novo papa.

Os cardeais se reúnem na Capela Sistina, onde permanecem isolados até que um candidato obtenha dois terços dos votos. Após cada votação, as cédulas são queimadas com substâncias químicas que produzem fumaça: preta, se não houver consenso; branca, se um novo papa for escolhido.
Confirmada a eleição, o escolhido é questionado se aceita o cargo e qual nome deseja adotar como pontífice. Após vestir a batina branca, ele aparece na varanda central da Basílica de São Pedro para ser apresentado ao mundo com o tradicional anúncio: Habemus papam.
( Com The New York Times )