Por Dr. Fellipe Valle *
Na ortopedia, a dor é um sinal de alerta. Um verdadeiro alarme do corpo que indica que algo não está funcionando bem. Ignorar esse sintoma, tentar se acostumar com ele ou, pior ainda, se automedicar sem buscar a causa, é como desligar o alarme de incêndio sem apagar o fogo. O problema continua ali, silencioso e ativo, prestes a causar um estrago ainda maior.
É fundamental entender que não é normal sentir dor, mesmo que ela seja leve, esporádica ou venha apenas com determinados movimentos. A dor é um sintoma que precisa ser avaliado com seriedade. Ao menor sinal de desconforto, principalmente se ele persiste por dias ou semanas, é hora de investigar.
A ortopedia oferece recursos para diagnosticar precocemente uma série de condições que, quando tratadas no início, podem ser resolvidas com terapias conservadoras, como medicações específicas, fisioterapia, infiltrações guiadas por imagem ou terapias regenerativas. Mas, se ignoradas, essas mesmas condições podem evoluir para quadros graves, que exigem cirurgias complexas e longos períodos de recuperação.
Confira alguns exemplos clássicos:
1. Lesões do manguito rotador
Uma das queixas mais comuns no consultório ortopédico é a dor no ombro. Muitas vezes, o problema começa com uma leve inflamação ou uma pequena lesão parcial em um dos tendões do manguito rotador.
Tratamento precoce: com repouso, fisioterapia, terapia por ondas de choque ou infiltrações regenerativas, como o plasma rico em plaquetas (PRP), é possível reverter o quadro e preservar a integridade dos tendões.
Se ignorado: a inflamação pode progredir para uma ruptura completa dos tendões, causando perda de força, limitação de movimento e dor constante. Nesses casos, a cirurgia passa a ser a única alternativa viável.
2. Artrose (desgaste articular)
A artrose é um processo degenerativo das articulações que se desenvolve lentamente. Inicialmente, a dor é leve, aparece após atividades físicas ou no fim do dia e costuma melhorar com o repouso.
Tratamento precoce: uso de medicamentos condroprotetores, mudança de hábitos, fortalecimento muscular, infiltrações com ácido hialurônico ou terapias regenerativas podem reduzir a inflamação e frear o avanço da doença.
Se ignorado: o desgaste aumenta, a cartilagem desaparece, os ossos entram em atrito direto e a dor se torna incapacitante. Nessa fase, muitas vezes só a prótese articular resolve.
3. Lesões meniscais (joelho)
Pequenos traumas ou movimentos repetitivos podem causar fissuras ou lesões discretas no menisco, que inicialmente provocam dor leve ou incômodos ao dobrar o joelho ou agachar.
Tratamento precoce: fisioterapia, modificação da atividade física, infiltrações ou até procedimentos minimamente invasivos podem cicatrizar ou controlar a lesão.
Se ignorado: a lesão aumenta, o menisco pode se romper completamente, comprometendo a biomecânica do joelho e acelerando o desgaste da cartilagem. Resultado: dor crônica e artrose precoce.
4. Fascite plantar
A dor no calcanhar ao pisar pela manhã costuma ser um dos primeiros sinais dessa inflamação na fáscia plantar. Se tratada logo, com alongamentos, palmilhas, fisioterapia ou ondas de choque, o alívio é rápido.
Se ignorado: o quadro se torna crônico, limita a marcha e pode exigir tratamentos complicados.
5. Epicondilite (cotovelo de tenista ou de golfista)
Começa com uma dor discreta no cotovelo após esforços repetitivos. Medidas simples, como repouso, gelo, bandagens e reabilitação, costumam resolver.
Se ignorado: a inflamação evolui para um processo degenerativo nos tendões, podendo levar à necessidade de intervenção cirúrgica.
A importância de um diagnóstico precoce
Na medicina ortopédica, o tempo é um fator crítico. Quanto mais cedo o problema é identificado, maiores são as chances de resolvermos com métodos conservadores, menos invasivos e mais eficazes. A dor é o primeiro passo para essa investigação — e não deve ser tratada como algo “normal” ou esperado do envelhecimento, do esporte ou do dia a dia.
Portanto, ao menor sinal de dor, procure avaliação com um especialista. A ortopedia moderna oferece inúmeras ferramentas para tratar com precisão, evitar cirurgias desnecessárias e preservar a qualidade de vida.
Lembre-se: desligar o alarme não apaga o incêndio. A dor é o seu corpo pedindo ajuda. Escute-o.
