Uso intenso de agrotóxicos levanta alerta
O morango conquistou espaço de destaque nas redes sociais e nas bancas de feira com a popularização do doce “morango do amor”. Por trás da aparência vibrante e da fama digital, porém, o cultivo dessa fruta guarda desafios sanitários que exigem atenção do consumidor e dos órgãos reguladores.
Cultivo vulnerável e exigente
A fragilidade da planta e a exposição constante do fruto fazem do morango uma das culturas com maior necessidade de defensivos agrícolas. O morangueiro abriga diversos agentes nocivos, como insetos, ácaros e roedores, o que torna indispensável a aplicação de agrotóxicos ao longo da safra para evitar prejuízos na colheita.
De acordo com o relatório Plantar, elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), destacam-se entre os principais inimigos do cultivo os pulgões, os tripes, a broca-das-frutas, as lagartas-de-solo e o ácaro-rajado (Tetranychus urticae). Este último é considerado o mais destrutivo: se não for combatido, pode comprometer severamente o rendimento das lavouras.
Roedores intensificam a pressão sobre o cultivo
Logo no início da colheita, roedores se tornam mais um obstáculo à produção. Em vez de consumir diretamente os frutos, eles atacam os aquênios — pequenos frutos secos presentes na superfície do morango — prejudicando o desenvolvimento da fruta e favorecendo sua contaminação. Este tipo de dano físico também contribui para a necessidade de defensivos.
Fragilidade da fruta potencializa absorção química
A engenheira de alimentos Cristina Staliano, do Centro de Qualidade Hortigranjeira da Ceagesp, destaca que o morango, por ser extremamente perecível e desprovido de uma casca protetora, absorve facilmente os produtos aplicados na lavoura.
“É uma fruta muito perecível e que fica muito exposta, ou seja, não há uma casca protetora, o que acaba facilitando a absorção de agrotóxicos no fruto. Como ele é altamente suscetível a pragas, os produtores acabam aplicando diversos tipos de defensivos. Além disso, alguns ainda utilizam fungicidas pós-colheita, o que aumenta ainda mais o resíduo”, diz Staliano.
Agrotóxicos em níveis acima do permitido
Análises conduzidas por programas da Anvisa e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontam que muitos morangos comercializados contêm resíduos de agrotóxicos acima dos limites máximos permitidos (LMR), além do uso de substâncias não homologadas para a cultura.
Um dos levantamentos mais abrangentes, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos (Para), revelou em 2010 que 63,4% das amostras de morango apresentavam irregularidades relacionadas à concentração excessiva de defensivos. Embora o fruto não tenha sido incluído na edição de 2024 do estudo, os dados continuam a preocupar especialistas da área.
Ranking de contaminação: alimentos sob alerta
- Pimentão
- Morango
- Pepino
- Alface
- Cenoura
- Abacaxi
- Beterraba
- Couve
- Mamão
- Tomate