No Congresso, apoio à anistia e reação às tarifas de Donald Trump geram divisões e incertezas
Divisão entre aliados e oposição sobre a solução da crise
A recente imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou um intenso debate no Brasil, dividindo parlamentares, aliados do governo e membros da oposição. Enquanto a família Bolsonaro e seus principais apoiadores argumentam que a solução para reverter a medida passa pela aprovação de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” que favoreça o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), essa proposta não encontra respaldo unânime no Congresso.
A postura cautelosa de líderes do Centrão
Líderes da Câmara dos Deputados, especialmente do Centrão, preferem não misturar os dois assuntos. Alguns, inclusive, argumentam que a prioridade deve ser a resolução da crise gerada pelas tarifas, e não a análise de um projeto de anistia para os envolvidos nos eventos de 8 de janeiro. A análise é de que uma movimentação apressada poderia enfraquecer a posição do Brasil, dando a impressão de que o Congresso cedeu à pressão de uma nação estrangeira.
O deputado Rafael Brito (MDB-AL) expressou com ironia que, se a solução fosse aprovar a anistia nesse momento, seria mais sensato pedir a Trump que anexasse o Brasil em vez de taxá-lo. Para ele, a medida de Trump, ao invés de ajudar, “sepulta” as chances de qualquer avanço sobre a anistia.
O discurso de Lula e a crítica ao governo dos EUA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se posicionado de forma firme contra a tarifação, afirmando que a medida representa um ataque à soberania nacional. Em seus pronunciamentos, Lula tem enfatizado que o Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém, especialmente por um governo estrangeiro. O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), afirmou que as chances de aprovação da anistia são praticamente nulas. “Seria desmoralizante para o país”, completou Farias, destacando a postura do Centrão, que também considera a medida um risco à imagem nacional.
Anistia como moeda de troca: os posicionamentos de Bolsonaro e seus filhos
Nos bastidores, a família Bolsonaro segue pressionando para que a solução para a tarifa esteja diretamente ligada à aprovação de uma anistia que favoreça o ex-presidente, alvo de investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) por sua suposta tentativa de golpe pós-eleitoral. Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, tem defendido publicamente que a medida contra as tarifas só será efetiva se for acompanhada por uma anistia abrangente.
Em carta divulgada no dia do anúncio das tarifas, Eduardo, junto com o ex-apresentador Paulo Figueiredo, argumentou que a ação de Trump confirma a eficácia de sua estratégia de diálogo com autoridades do governo republicano. Já o irmão de Eduardo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), alinhado ao mesmo discurso, declarou que o primeiro passo para resolver a questão das tarifas seria uma anistia “ampla, geral e irrestrita”.
A reação internacional e a postura de Steve Bannon
Steve Bannon, ideólogo do movimento trumpista, foi ainda mais enfático ao afirmar que a única forma de reverter as tarifas seria o fim das investigações contra Bolsonaro. Em entrevista ao UOL, Bannon afirmou que “derrubem o caso, derrubamos as tarifas”, evidenciando a tentativa de transformar o impasse econômico em uma negociação política diretamente ligada ao futuro do ex-presidente.
A complexidade da negociação: o papel do Congresso e do governo
Pedro Lupion (PL-PR), presidente da bancada ruralista, reconheceu que a situação exige uma negociação técnica sobre as tarifas. Segundo ele, não se trata de atender às demandas de Trump, mas de buscar uma solução que minimize os impactos da medida sobre a economia brasileira. Para o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara, o governo de Lula tem a responsabilidade de resolver a questão das tarifas, enquanto a anistia precisa ser pautada rapidamente.
O contraponto da esquerda: responsabilizando o bolsonarismo
Por outro lado, membros da oposição, como a deputada Tabata Amaral (PSB-SP), afirmam que a imposição da tarifa é uma consequência direta da atuação do bolsonarismo e das movimentações de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Para eles, a tarifa não passa de uma chantagem do governo americano, colocando o Brasil em uma posição de refém.
O caminho das negociações: a Lei de Reciprocidade
Diante desse impasse, o presidente Lula segue buscando uma saída diplomática. Caso as negociações não avancem, ele se comprometeu a recorrer à Lei de Reciprocidade, aprovada recentemente no Congresso Nacional, que permite ao Brasil adotar medidas equivalentes para reagir a ações unilaterais, como a tarifa imposta por Trump. O decreto que regulamenta essa lei está em fase final de discussão no Planalto e deve ser publicado nos próximos dias, detalhando as respostas possíveis por parte do governo brasileiro.
